quinta-feira, 15 de maio de 2025

SUPORTE BÁSICO DE VIDA E PRIMEIROS SOCORROS

 





Manejo Das Vias Aéreas Superiores

Nesta aula, convidamos você a conhecer a importância do manejo adequado das vias aéreas superiores, as técnicas de liberação delas e a finalidade da posição lateral de segurança. Em cada um desses tópicos, descreveremos o passo a passo de cada procedimento, além das condutas mais adequadas, e o que deve ser evitado para não prejudicar ainda mais o agravo inicial.

Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você está em um supermercado, quando escuta um barulho no corredor ao lado e uma pessoa pedindo ajuda. Rapidamente você dá a volta nas gôndolas e avista uma mulher ao lado do seu filho, um jovem de 23 anos, que está apresentando uma crise convulsiva. Após a crise, o rapaz fica sonolento e começa a ter dificuldade para respirar devido ao relaxamento da língua, que está obstruindo as vias aéreas. Como você foi o primeiro a chegar para prestar ajuda, qual seria a sua ação imediata para garantir a segurança e o bem-estar da pessoa em situação de emergência?

Para entender como realizar esse atendimento inicial, não deixe de ler o conteúdo que preparamos para esta aula, além de acessar os materiais complementares para aprimorar seus conhecimentos! Bons estudos!

Para entender melhor sobre o manejo das vias aéreas superiores, é preciso antes compreender sobre o sistema respiratório, que é formado pelas estruturas das vias aéreas superiores e inferiores:

  • Vias aéreas superiores: estruturas localizadas fora da cavidade torácica, como cavidades nasais, laringe e faringe. Têm a função de filtrar, aquecer e umidificar o ar que é inspirado. São as vias aéreas superiores que são manejadas em primeiros socorros.
  • Vias aéreas inferiores: estruturas localizadas na cavidade torácica, como traqueia, brônquios, bronquíolos, alvéolos e pulmões. Sua função é realizar a troca gasosa, também conhecida como hematose, que consiste na liberação de oxigênio nos capilares que passam pelo pulmão e eliminação do dióxido de carbono dos capilares para o meio ambiente, por meio do movimento de expiração.

O movimento de inspiração e expiração possibilita a entrada de oxigênio no organismo e eliminação de dióxido de carbono para o ambiente externo. Para que ocorra o processo de respiração, é necessária uma ação conjunta de músculos intercostais e do diafragma, que permitem a entrada e a saída do ar.

Manejo das vias aéreas superiores como foco no atendimento

O sistema respiratório é vital para a sobrevivência do ser humano. Portanto, nos casos em que as vias aéreas estiverem fechadas ou bloqueadas, o movimento respiratório estará ausente ou apresentará dificuldade para a passagem de ar, o que pode interferir na oxigenação do organismo, levando à morte celular e ocasionando até mesmo o óbito da vítima. A via aérea superior é frequentemente bloqueada pela língua, muito comum em vítimas inconscientes, devido ao relaxamento muscular. Isso também está associado ao estreitamento da faringe, diferença anatômica presente em algumas pessoas.

Por isso, é tão importante saber realizar o manejo dessas situações. Nos primeiros socorros, o foco deverá ser o manejo das vias aéreas superiores; sua avaliação permitirá observar se estão pérvias. Se a vítima não estiver respondendo nem respirando, ou mesmo respirando com dificuldade, faz-se necessário realizar a abertura das vias aéreas.

No momento do atendimento da vítima, o socorrista deve ter raciocínio ágil e uma boa percepção sobre o que acontece. Sua decisão de realizar manobra de liberação das vias aéreas deve ser direcionada de forma segura, para evitar danos à vítima. É necessário classificar se é uma emergência clínica ou traumática, pois a técnica empregada é diferente em cada uma. No entanto, você já pensou sobre como o socorrista pode distinguir entre esses dois tipos de emergências?

Técnica de liberação de vias aéreas nas vítimas clínicas

A seguinte manobra de liberação das vias aéreas superiores é indicada para os casos de vítimas clínicas, pois não apresentam risco de lesão cervical, que pode ser agravada com essa técnica. A manobra consiste em:

  • Inclinar a cabeça da vítima (hiperextensão).
  • E realizar elevação do queixo.

Com essa manobra, há a movimentação da mandíbula e liberação da língua; além disso, essa técnica pode ser realizada por um socorrista apenas. Ao elevar o queixo e abrir a boca com o indicador e o polegar, o socorrista deve realizar a inspeção da cavidade oral.

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Figura 1 | Manobra de inclinação da cabeça com elevação do queixo (head tilt chin lift). Fonte: Shutterstock.

Técnica de liberação de vias aéreas nas vítimas de trauma

Uma vítima de trauma é aquela acometida por um agente externo. Nessas vítimas, na manobra de liberação de vias aéreas, o socorrista deve atentar-se aos cuidados com a região cervical, a fim de não a lesionar, ou não agravar uma situação instalada. Portanto, nesse caso é contraindicado a realização da hiperextensão da cabeça. A manobra pode ser realizada com um socorrista e consiste em:

  • Estabilizar a cabeça manualmente.
  • Com o dedo indicador e polegar da outra mão, realizar a elevação do queixo para inspeção da cavidade oral.

Outra técnica utilizada nesses casos, é a anteriorização da mandíbula (Jaw Thrust), que pode ser realizada com dois socorristas, descrita a seguir:

  • O socorrista deve posicionar os polegares na face da vítima, na região dos ossos zigomáticos, ao mesmo tempo deve colocar os dedos indicares e médios sobre o ângulo da mandíbula, empurrando-a para frente.
  • Outro socorrista realiza a abertura da cavidade oral para inspeção.
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Figura 2 | Manobra de anteriorização da mandíbula (jaw thrust). Fonte: Shutterstock

Conduta após observação de corpo estranho na cavidade oral

Nos primeiros socorros, após o socorrista realizar adequadamente a manobra de liberação das vias aéreas superiores, tanto nos casos com vítimas clínicas quanto de traumas, ele deve inspecionar a cavidade oral, sendo útil o uso de uma lanterna, para melhor visualização. Caso um corpo estranho seja observado, a conduta deve ser:

  • Corpo estranho sólido: realizar a retirada com os dedos em pinça.
  • Corpo estranho líquido em pequena quantidade: remover com o auxílio de uma gaze.
  • Corpo estranho líquido em grande quantidade: realizar lateralização em bloco em vítimas de emergências de traumas. Já em emergências clínicas, realizar a posição lateral de segurança.
  • Posição lateral de segurança

    Uma pessoa que não responde ou tem um nível alterado de capacidade de resposta não deve estar em posição supina (posição dorsal), devido ao risco de obstrução das vias aéreas pela língua, pela saliva ou outro fluído. Você pode ajudar a proteger as vias respiratórias, posicionando a pessoa lateralmente. Essa posição é denominada lateral de segurança (PLS). É mais segura, desde que não interfira no atendimento.

    Porém, muita atenção: vítimas de trauma não devem ser manipuladas, pois há o risco de agravar sua condição; você só deve realizar a movimentação da pessoa se for seguro, como em casos de vítimas de emergências clínicas. Além disso, a vítima não pode estar em parada cardíaca. Existem ainda outras situações especiais para observar, como:

    • Em gestantes, o ideal é a PLS para a esquerda, evitando compressão da veia cava inferior a fim de melhorar o retorno venoso.

    Em afogados, a PLS deve ser para a direita, pois os danos se concentrarão no pulmão direito que já é naturalmente comprometido devido ao brônquio direito ser mais curto e vertical.

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    Figura 3 | Posição lateral de segurança. Fonte: Shutterstock.

    Para lateralizar a vítima, você deve obedecer aos passos descritos a seguir:

    • 1º passo: o dorso da mão da vítima da lateral distal deve ser colocada contra a face dela.
    • 2º passo: a perna distal da vítima deve ser flexionada.
    • 3º passo: realiza-se o giro da vítima e ela estará em PLS.

     É importante destacar que vítimas que falam, gemem ou choram estão com as vias aéreas pérvias, ou seja, apresentam liberação para a passagem de ar. Já se a vítima não apresentar o movimento respiratório ou não responder ao comando do socorrista, faz-se necessário realizar o manejo para abertura das vias aéreas. As manobras podem ser ou não suficientes para a liberação das vias aéreas superiores, e consequente restabelecimento da respiração. O socorrista deve monitorar sua evolução e prosseguir a avaliação.

    Chegamos ao final desta aula! No decorrer deste material, abordamos o manejo das vias respiratórias de vítimas clínicas e traumáticas, e as manobras recomendadas para manter a função respiratória íntegra. Agora convidamos você a acompanhar as próximas aulas para entender como realizar os procedimentos de primeiros socorros diante de obstrução de vias respiratórias por corpo estranho, também conhecido como OVACE!

  • Agora que você aprendeu a importância do manejo adequado das vias aéreas superiores, as técnicas de liberação delas e a finalidade da posição lateral de segurança, vamos solucionar a situação-problema referente ao jovem de 23 anos. Ele está apresentando uma crise convulsiva, em seguida, fica sonolento e aparenta dificuldades para respirar devido ao relaxamento da língua, que está obstruindo as vias aéreas. Como você foi o primeiro a chegar para prestar ajuda, qual seria a sua ação imediata para garantir a segurança e o bem-estar dessa pessoa em situação de emergência?

    Com base nos conteúdos abordados nessa seção, aprendemos que a via aérea superior é frequentemente bloqueada pela língua, o que é muito comum em vítimas inconscientes, devido ao relaxamento muscular. Se a vítima não estiver respondendo nem respirando, ou mesmo respirando com dificuldade, faz-se necessário realizar a abertura das vias aéreas.

    Por se tratar de uma vítima de agravo clínico, a seguinte manobra de liberação das vias aéreas superiores é indicada:

    • Inclinar a cabeça da vítima (hiperextensão).
    • E realizar elevação do queixo.

    Com essa manobra, há a movimentação da mandíbula e liberação da língua; ela pode ser realizada por um socorrista apenas. Ao elevar o queixo e abrir a boca com o indicador e o polegar, o socorrista deve realizar a inspeção da cavidade oral. Caso um corpo estranho seja observado, a conduta deve ser:

    • Corpo estranho sólido: realizar a retirada com os dedos em pinça.
    • Corpo estranho líquido em pequena quantidade: remover com o auxílio de uma gaze.
    • Corpo estranho líquido em grande quantidade: realizar lateralização em bloco em vítimas de emergências de traumas. Já em emergências clínicas, realizar a posição lateral de segurança.

    A posição lateral de segurança, por sua vez, é utilizada nas situações em que a vítima não responde ou tem um nível alterado de capacidade de resposta, uma vez que a posição dorsal aumenta o risco de obstrução das vias aérea pela língua, pela saliva ou outro fluído. Portanto, a posição lateral de segurança é a posição mais segura, e pode ser realizada em três passos:

    • 1º passo: o dorso da mão da vítima da lateral distal deve ser colocada contra a face dela.
    • 2º passo: a perna distal da vítima deve ser flexionada.
    • 3º passo: realiza-se o giro da vítima e ela estará em PLS.
    Obstrução De Vias Aéreas Por Corpo Estranho

    Nesta segunda aula, convidamos você a conhecer como realizar os primeiros socorros diante de uma obstrução das vias aéreas por corpo estranho (OVACE) e ao engasgo. Nessas situações, a atuação rápida e efetiva do socorrista é determinante para a sobrevida da vítima que, se não for socorrida imediatamente, pode morrer.

    Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você está em um churrasco com amigos e familiares. Enquanto todos estão aproveitando a comida e a conversa, você percebe que um dos convidados, um senhor idoso, começa a tossir de forma descontrolada e a bater no peito, demonstrando sinais de sufocamento. Ele está com uma expressão de angústia e dificuldade para respirar. Sua missão agora é avaliar a situação e prestar os primeiros cuidados a essa vítima. Vamos lá?

    Para entender como realizar esse atendimento inicial, não deixe de ler o conteúdo que preparamos para esta aula, além de acessar os materiais complementares para aprimorar seus conhecimentos! Bons estudos!

    A obstrução de vias aéreas por corpo estranho (OVACE) é considerada uma emergência, principalmente em crianças, pois, em casos graves, pode levar à insuficiência respiratória e óbito, em um período de quatro minutos. A OVACE é responsável por 84% dos acidentes em crianças menores de cinco anos, sendo predominante no sexo masculino. Considerando a gravidade dessas situações, o socorrista deve estar preparado para o reconhecimento dessas situações e capacitado para realizar o manejo adequado.

    A OVACE pode ser definida como obstrução causada por objeto ou substância na passagem do ar até os pulmões, interferindo nas trocas gasosas de oxigênio e gás carbônico. A obstrução pode ser parcial ou total, dependendo do local em que se instala nas vias aéreas, do tamanho do objeto e da idade da vítima.

    Normalmente, durante o processo de deglutição, as nossas vias aéreas são protegidas por uma estrutura chamada epiglote, apresentada na Figura 1. É uma estrutura composta por tecido cartilaginoso, situada atrás da língua e que funciona como uma válvula: durante a respiração, ela permanece aberta, para a passagem de ar até os pulmões (Figura 1A); na deglutição, ela se fecha para que não haja passagem de alimentos ou objetos para as vias aéreas, encaminhando-os para o estômago (Figura 1B); após a deglutição, ela volta a se abrir, permitindo o retorno da respiração (Figura 1C).

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    Figura 1 | Movimento da epiglote na deglutição. Fonte: adaptado de Shutterstock.

    No entanto, qualquer interferência no processo de deglutição ou no funcionamento da epiglote pode levar a um engasgo, pois o alimento é desviado para as vias respiratórias, resultando em sua obstrução. Assim, seu organismo se manifestará por meio do engasgo, na tentativa de expulsar o alimento ou objeto que obstruiu as vias aéreas durante a deglutição.

    Os sinais clássicos para reconhecimento do engasgo são: ao tentar falar, a pessoa não emite voz; agitação; posição das mãos na região da garganta; e cianose (arroxeamento de extremidades e lábios). Em crianças, a presença de tosse ou choro indica que não houve obstrução completa das vias aéreas; neste caso, o socorrista deve observar o quadro clínico e estimular a pessoa a tossir à vontade para eliminar o corpo estranho. Porém, se o caso clínico apresentar uma piora neste período, a vítima deve ser atendida imediatamente.

    Obstrução parcial das vias aéreas

    Na obstrução parcial, há um pouco de passagem de ar na via aérea, ou seja, o objeto ou substância não tomou inteiramente o espaço alojado. A vítima pode apresentar-se assintomática ou com sintomas mínimos, como tosse forte e podendo até falar, porém com dificuldade. Persistindo por horas, dias ou até mesmo semanas, o quadro pode levar a uma hipóxia progressiva até uma parada cardiorrespiratória. Nesses casos, o socorrista deve incentivar a tosse para que o corpo estranho seja expelido.

    Obstrução total ou severa das vias aéreas

    Na obstrução total, o ar é totalmente impedido de realizar a passagem nas vias aéreas, podendo causar na vítima hipóxia com lesões irreversíveis até a morte. Nesse quadro, a vítima não consegue falar e nem mesmo tossir, ou apresenta tosse fraca. Também é comum o sinal universal da asfixia (segurar o pescoço com uma ou ambas as mãos) e a presença de cianose, que é o arroxeamento de extremidades e dos lábios. Nesses casos, o socorrista deve observar a consciência da vítima, pois, se ela estiver consciente, deve aplicar a manobra de Heimlich (compressões abdominais), entretanto, se a vítima evoluir para a inconsciência deve iniciar a ressuscitação cardiopulmonar (RCP).

    Manobra de Heimlich

    A manobra de Heimlich é considerada um método simples e de fácil execução para desobstrução das vias aéreas. Foi estabelecida em 1974, pelo médico cirurgião torácico Henry Heimlich, que, após observar muitos óbitos decorrentes de engasgo por comida ou pequenos objetos, desenvolveu uma pesquisa a fim de investigar recursos para utilizar a pressão subdiafragmática e permitir que o ar preso nos pulmões fosse utilizado para expelir o conteúdo das vias aéreas da vítima, revertendo situações de asfixia.

    É uma manobra que deve ser utilizada em vítimas conscientes com obstrução total das vias aéreas. Antes do procedimento ser iniciado, é importante que o socorrista explique para a vítima como vai proceder. Além disso, as manobras de desobstrução são diferentes para adultos, crianças e lactentes.

    Em casos de lactentes consciente, observa-se primeiramente a presença de algum objeto de fácil retirada nas vias aéreas superiores, se não, o bebê deve ser posicionado de bruços sobre o braço do socorrista com a cabeça um pouco mais baixo que o tronco, e então dar cinco palmadas com a base das mãos entre as escápulas (Figura 2.1); após, virar o bebê de frente, ainda sobre o braço, e aplicar cinco compressões sobre o esterno, na altura dos mamilos (Figura 2.2). Se não obtiver resultados, as compressões devem ser repetidas até a chegada do serviço de emergência.

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    Figura 2 | Manobra de Heimlich em lactentes. Fonte: Shutterstock.

    Em crianças conscientes, o método consiste em: ajoelhar-se e abraçar a vítima por trás com os braços ao redor do abdome, manter uma das mãos do socorrista fechada sobre a região superior do abdome e acima do umbigo, e a outra mão comprimir ao mesmo tempo que empurra para dentro e para cima. Esta manobra deve ser repetida por cinco vezes, observando a expulsão do corpo estranho e a respiração da criança.

    Bastante semelhante à manobra na criança, é a manobra no adulto, exceto que, nesse último caso, o socorrista fica em pé atrás da vítima. Veja como realizar a manobra de Heimlich em adultos, com a vítima em pé e consciente:

    • Confirmar a presença de dificuldade para respirar (dispneia) ou ausência de respiração (apneia), mas consciente.
    • Posicionar-se atrás da vítima.
    • Posicionar a perna dominante entre as pernas da vítima.
    • Enlaçar a vítima com os braços ao redor do abdome, se for uma criança, ajoelhe-se primeiro.
    • Manter a mão dominante fechada entre o umbigo da vítima e o apêndice xifoide.
    • A outra mão, não dominante, espalmar na mão dominante;
    • Realize movimento em “J”, comprimindo a mão dominante ao mesmo tempo que empurra a região epigástrica para dentro e para cima, como se quisesse levantar a vítima do chão;
    • Repita os movimentos de forma rápida e vigorosa, quantas vezes forem necessárias.
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    Figura 3 | Manobra de Heimlich no adulto consciente. Fonte: Shutterstock.

    Caso a vítima esteja sozinha no momento do engasgo, é possível realizar a manobra de Heimlich em si própria, conforme as seguintes orientações:

    • A vítima deve colocar seu punho acima da região umbilical e segurá-lo com a outra mão.
    • A vítima deve se inclinar sobre uma cadeira ou bancada e conduzir seu punho em direção a si mesma com um impulso para cima.
    • Se a vítima não conseguir, deve realizar os movimentos sem o uso das mãos, diretamente na cadeira.
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    Figura 4 | Manobra de Heimlich com a vítima sozinha. Fonte: Shutterstock.

    OVACE em vítimas inconscientes

    As vítimas de OVACE inconscientes precisam de atendimento especializado rapidamente. Os primeiros socorros para asfixia ou engasgo devem ser tomados até que seja possível o atendimento de urgência e o passo a passo é igual para adultos, crianças e lactentes.

    • Chamar ajuda, por meio do telefone 192.
    • Realizar 30 compressões no tórax da vítima utilizando o peso do corpo; se ela for adulta, utilizando as duas mãos; se for criança, utilizando uma ou duas mãos; e, se for lactente, utilizando dois dedos ou polegares sobrepostos ou um do lado do outro.
    • Abrir vias aéreas e tentar observar corpo estranho; se for visível retirar o corpo estranho com dedos em forma de pinça.
    • Se não conseguir retirar o corpo estranho, realizar duas ventilações de resgate e seguir com as compressões.
    • Se conseguir retirar o corpo estranho, observar a respiração da vítima e colocá-la em posição lateral de segurança.

    A ventilação em vítimas com obstrução total é realizada, pois considera-se que qualquer oferta de oxigênio pode ser benéfica para a vítima que está em hipóxia. Além disso, a movimentação que o socorrista realiza ao posicionar a vítima em decúbito dorsal, para abrir vias aéreas, pode deslocar o corpo estranho e permitir a passagem de ar.

    Cuidados especiais

    • Algumas situações devem ser observadas:
    • As compressões abdominais não devem ser realizadas em bebês devido ao risco de lesão intra-abdominal.
    • Para evitar lesão de órgãos internos e prevenir fraturas, na manobra de Heimlich, as mãos não devem tocar o processo xifoide do esterno ou as bordas inferiores das costelas.
    • Em obesos e grávidas, as compressões devem ser realizadas no tórax, com o mesmo princípio; entretanto, não se devem realizar as compressões abdominais.

    Chegamos ao final de mais uma aula! No decorrer deste material, descrevemos como realizar os primeiros socorros frente à OVACE e ao engasgo. Você viu, neste material, que a atuação rápida e efetiva do socorrista é determinante para a sobrevida da vítima que, se não for socorrida imediatamente, pode morrer. Agora convidamos você a acompanhar as próximas aulas para entender como realizar o atendimento inicial a uma parada cardiorrespiratória.

    Agora que você aprendeu a realizar os primeiros socorros diante de uma OVACE, vamos solucionar a situação-problema referente a um senhor que sofreu um engasgo. Enquanto todos estavam aproveitando a comida e a conversa, em um churrasco, você percebe que um dos convidados, um senhor idoso, começa a tossir de forma descontrolada e a bater no peito, demonstrando sinais de sufocamento. Ele está com uma expressão de angústia e dificuldade para respirar. Sua missão agora é avaliar a situação e tomar e prestar os primeiros cuidados a essa vítima.

    Com base nos conteúdos abordados, aprendemos que você deve realizar a abordagem da OVACE da seguinte forma:

    1. Mantenha a calma e avalie rapidamente a situação para determinar se o senhor está realmente engasgado e precisa de ajuda.
    2. Peça permissão ao senhor para ajudá-lo e explique que você vai realizar a manobra de Heimlich.
    3. Posicione-se por trás do senhor e envolva seus braços ao redor da cintura dele.
    4. Faça um punho com uma das mãos e coloque-o entre o umbigo e o apêndice xifoide do senhor.
    5. Segure o punho com a outra mão e pressione bruscamente para dentro e para cima, de forma rápida e repetida, até que o objeto seja expelido ou o senhor consiga respirar normalmente.
    6. Após a remoção do objeto ou a desobstrução das vias aéreas, certifique-se de que o senhor esteja calmo e respire normalmente. Caso ele desmaie, coloque-o no chão e inicie a RCP (ressuscitação cardiopulmonar). Chame imediatamente por ajuda médica.

    Lembrando que a manobra de Heimlich deve ser realizada com cuidado e apenas em pessoas que realmente estejam engasgadas. Se a pessoa conseguir tossir e expelir o objeto por conta própria, não é necessário aplicar a manobra.


    Nesta terceira aula, convidamos você a iniciar seus estudos sobre o atendimento a uma parada cardiorrespiratória (PCR). Essa é uma emergência clínica que exige a realização imediata de manobras com qualidade, pensando que após 10 minutos de PCR sem atendimento, as chances de sobrevivência da vítima são praticamente nulas.

    Para contextualizar sua aprendizagem, imagine você está em um evento esportivo ao ar livre quando presencia um jogador de futebol cair repentinamente no chão durante a partida. Você corre para ajudar e, ao chegar no local, percebe que o jogador não está respirando e não tem pulso. Você ajuda no atendimento inicial, acionando serviço especializado e buscando um desfibrilador externo automático (DEA), uma vez que outras pessoas já iniciaram as manobras ressuscitação cardiopulmonar. Ao chegar com o desfibrilador e posicioná-lo sobre o tórax da vítima, o DEA indica continuar com as compressões torácicas, pois o choque não é recomendado. Pensando nessa situação, vários questionamentos podem surgir, dentre eles: existe uma sequência correta para prestar o atendimento à PCR? Como o socorrista deve agir quando está sozinho e quando tem ajuda? Qual a função do DEA e por que ele não recomendou o choque?

    Para entender como realizar esse atendimento inicial, não deixe de ler o conteúdo que preparamos para esta aula, além de acessar os materiais complementares para aprimorar seus conhecimentos! 

    A parada cardiorrespiratória (PCR) é uma emergência caracterizada pala interrupção súbita de funções vitais do corpo humano, como as atividades circulatórias, respiratórias e do coração. A ausência de ventilação e da contratilidade cardíaca interfere na perfusão para os órgãos vitais, que é a entrega de oxigênio aos tecidos e células de todo o corpo. Com o comprometimento da perfusão, as células entram em sofrimento, e apresentam comprometimento de seu funcionamento, inclusive morte celular.

    Em órgãos como o cérebro, coração e pulmão, as células conseguem sobreviver por até 4 minutos sem circulação sanguínea; a partir disso, a cada 1 minuto de PCR sem os cuidados adequados, a vítima perde 10% de chance de sobrevivência. Em 10 minutos, as chances de sobreviver podem ser consideradas nulas, o que reforça a importância de um atendimento inicial imediato e de qualidade.

    PCR pode acometer indivíduos em qualquer lugar, seja ele intra ou extra-hospitalar. No entanto, o objetivo do nosso material é descrever como prestar um atendimento assertivo nas vítimas extra-hospitalares, com foco nas manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e no uso do desfibrilador externo automático (DEA), realizadas por leigos devidamente capacitados até a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (SAMU).

    As manobras de RCP têm a finalidade de manter a circulação sanguínea para os órgãos e tecidos, especialmente o cérebro, além de restabelecer a circulação espontânea da vítima ao reverter a PCR. As manobras são padronizadas quanto ao modo de realização e sequência, sendo denominadas suporte básico de vida (SBV), um protocolo estabelecido pela American Heart Association (AHA).

    A American Heart Association (AHA) é uma associação americana e sem fins lucrativos, fundada em 1924, responsável pela publicação de Diretrizes para RCP e Atendimento Cardiovascular de Emergência (ACE), utilizadas por profissionais de saúde, empresas e hospitais nos Estados Unidos e em todo o mundo. Cabe destacar que as informações contidas nessa seção são referentes à atualização que ocorreu em 2020 pela AHA, além da Atualização das Diretrizes de RCP e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que ocorreu em 2019.

    Suporte básico de vida

    O suporte básico de vida estabelecido pela AHA pode ser desenvolvido através de passos simples, denominados 4 passos que salvam vidas. A definição de cada um deles será apresentada a seguir.

    • Passo 1: reconhecimento precoce da PCR

    Uma pessoa em PCR deverá estar inconsciente e não apresentar respiração. Para se certificar disso, você deve chamar a pessoa em voz alta e tocar os ombros da vítima de forma vigorosa, verificando se ela apresenta alguma resposta. Além disso, você deve verificar a respiração, observando se há expansibilidade torácica enquanto se aproxima do rosto vítima para tentar identificar algum movimento respiratório; essa avaliação deve acontecer durante 5 a 10 segundos. Lembre-se de que, antes disso, você já deve ter verificado a cena, sinalizado o local e conferido a biossegurança.

    • Passo 2: acionar o SAMU e solicitar o DEA de forma adequada

    Para solicitar ajuda de forma adequada, deve-se considerar a quantidade de socorristas, pois, com dois socorristas, um deve começar o atendimento e o outro, realizar a ligação para solicitar o SAMU e ir em busca de um desfibrilador externo automático (DEA). No caso de um socorrista, ele liga para o SAMU e coloca o celular no viva voz, e realiza o atendimento à vítima simultaneamente. Se houver um socorrista e ele não estiver com celular, deve ir em busca de ajuda e depois retornar para prestar o atendimento.

    • Passo 3: realizar RCP de forma adequada (imediata e de qualidade)

    Realizar compressões torácicas de alta qualidade e ventilações com técnica adequada, sendo o ar ventilado suficiente para elevar o tórax. Caso você não se sinta seguro, é possível realizar o atendimento apenas com as compressões torácicas contínuas. Lembre-se: a realização de compressões torácicas contínuas, sem ventilações, é ainda mais eficaz do que a ausência de qualquer manobra!

    • Passo 4: uso de DEA assim que disponível

    O DEA é um aparelho portátil, configurado para ler o ritmo cardíaco apresentado pela vítima, diagnosticar as arritmias cardíacas e tratá-las através da desfibrilação, uma aplicação de corrente elétrica que cessa a arritmia, auxiliando o coração a restabelecer a contratilidade normal. Isso é importante, pois algumas PCRs evoluem por conta de arritmias, conforme veremos mais adiante. Além disso, o DEA seleciona o nível de energia e carrega automaticamente, ficando sob responsabilidade do socorrista apertar o botão de choque, quando indicado, e disposição das pás de forma correta.

    O DEA é um equipamento essencial no processo de RCP e pode ser utilizado por pessoas não treinadas, pois é projetado para orientar o usuário durante o processo de aplicação dos choques. Sua rápida utilização pode aumentar significativamente as chances de sobrevivência da vítima; trata-se de um equipamento fundamental em locais onde há grande circulação de pessoas, como aeroportos, shopping centers, escolas e empresas. Dessa forma, em 7 de janeiro 2005 foi criada a lei nº 13.945, a qual dispõe sobre a obrigatoriedade da manutenção de aparelho desfibrilador externo automático em locais que apresentem concentração/circulação média diária de 1500 ou mais pessoas.

    • Ritmos cardíacos de PCR

    O ritmo cardíaco considerado normal é denominado sinusal, e apresenta ritmo e frequência regulares. Assim, podemos sentir nosso coração batendo sempre com o mesmo intervalo, em uma frequência de 60 a 100 batimentos por minuto. Sem a frequência e ritmo regulares, o coração pode não atuar de forma eficiente como uma bomba para circular o sangue oxigenado e outros nutrientes vitais para todos os tecidos e órgãos do corpo, incluindo o próprio coração.

    Na parada cardíaca, é possível identificar 4 ritmos cardíacos diferentes: taquicardia ventricular sem pulso (TVSP), fibrilação ventricular (FV), atividade elétrica sem pulso (AESP) e assistolia, conforme descrito a seguir:

    • Taquicardia ventricular sem pulso (TVSP): é um ritmo cardíaco no qual o coração se contrai com uma frequência mais elevada, e de forma descoordenada, ou seja, os ventrículos prevalecem sobre os átrios, pois contraem mais rapidamente. É considerado um ritmo chocável.
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    Figura 1 | Apresentação da taquicardia ventricular no traçado cardíaco. Fonte: Viana, Whitaker e Zanei (2020, p. 254).
    • Fibrilação ventricular: é a arritmia mais comum em vítimas de parada cardíaca. O coração apresenta contrações descoordenadas e ineficazes, sem conseguir bombear sangue de forma eficaz para o corpo. É considerado um ritmo chocável.
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    Figura 2 | Apresentação da fibrilação ventricular no traçado cardíaco. Fonte: Viana, Whitaker e Zanei (2020, p. 254).
    • Atividade elétrica sem pulso: é uma condição na qual se observa presença de atividade elétrica organizada no traçado cardíaco, semelhante ao ritmo sinusal, porém, a vítima não apresenta pulso. É considerado um ritmo não chocável.
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    Figura 3 | Apresentação da AESP no traçado cardíaco. Fonte: Viana, Whitaker e Zanei (2020, p. 254).
    • Assistolia: é definida como a ausência total de atividade elétrica no coração, resultando em uma parada cardíaca completa, de modo que o coração não contrai e não há pulso. É considerado um ritmo não chocável.
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    Figura 4 | Apresentação da assistolia no traçado cardíaco. Fonte: Viana, Whitaker e Zanei (2020, p. 254).

    Em nível de primeiros socorros, não é exigido que o socorrista saiba identificar esses ritmos, mas é importante saber que os dois primeiros, TVSP e FV, se enquadram nos ritmos chocáveis, ou seja, são tratáveis através da desfibrilação, enquanto os outros dois são ritmos não chocáveis.

    Dessa forma, é possível compreendermos por que o DEA recomenda o choque em alguns momentos, e em outros não. O DEA indicará o choque somente em ritmos cardíacos em que a atividade elétrica está muito desorganizada, uma vez que a sua função é a de “resetar” a atividade elétrica anormal e reorganizá-la, a fim de retornar ao ritmo sinusal.

    Chegamos ao final de mais uma aula! No decorrer deste material, você iniciou os estudos sobre o atendimento a uma parada cardiorrespiratória (PCR), uma emergência clínica que exige a realização imediata de manobras com qualidade. Agora, convidamos você a acompanhar as próximas aulas para aprofundar seus conhecimentos sobre o atendimento à parada cardiorrespiratória.

    Agora que você aprendeu sobre o conceitos iniciais do atendimento a uma parada cardiorrespiratória (PCR), vamos solucionar a situação-problema referente a um jogador de futebol que sofreu uma PCR durante a partida. Ele caiu repentinamente no chão e você corre para ajudar. Ao chegar no local, percebe que o jogador não está respirando e não tem pulso. Você ajuda no atendimento inicial, acionando serviço especializado e buscando um desfibrilador externo automático (DEA), já que outras pessoas já iniciaram as manobras ressuscitação cardiopulmonar. Ao chegar com o desfibrilador e posicionar sobre o tórax da vítima, o DEA indica continuar com as compressões torácicas, pois o choque não é recomendado. Pensando nesta situação, vários questionamentos podem surgir, dentre eles: existe uma sequência correta para prestar o atendimento à PCR? Como o socorrista deve agir quando está sozinho e quando tem ajuda? Qual a função do DEA e por que ele não recomendou o choque?

    Com base nos conteúdos abordados, aprendemos que o atendimento à PCR realizado por leigos deve ser embasado no suporte básico de vida (SBV), estabelecido pela AHA. O SBV pode ser desenvolvido através de passos simples, denominados 4 passos que salvam vidas:

    • Passo 1: reconhecer rapidamente se uma pessoa está em PCR, confirmando se está inconsciente e não apresenta respiração em um intervalo de 5 a 10 segundos. Antes disso, você já deve ter verificado a cena, sinalizado o local e conferido a biossegurança.
    • Passo 2: acionar o SAMU e solicitar um desfibrilador externo automático.
    • Passo 3: realizar as manobras de ressuscitação cardiopulmonar, compressões e ventilações, com qualidade e de forma adequada.
    • Passo 4:  utilizar o DEA assim que disponível.

    Para solicitar ajuda de forma adequada, você deve considerar a quantidade de socorristas, conforme descrito a seguir:

    • Dois socorristas: um deve começar o atendimento e o outro realizar a ligação para solicitar o SAMU.
    • Um socorrista com celular: ligar para o SAMU e colocar o celular no viva voz, realizando o atendimento à vítima simultaneamente.
    • Um socorrista sem celular: ir em busca de ajuda e depois retornar para prestar o atendimento.

    Em relação ao DEA, cabe destacar que se trata de um aparelho portátil, configurado para ler o ritmo cardíaco apresentado pela vítima de PCR, diagnosticar as arritmias cardíacas e tratá-las através da desfibrilação. O DEA indicará o choque nos ritmos cardíacos em que a atividade elétrica está muito desorganizada, uma vez que a sua função é a de “resetar” a atividade elétrica anormal e reorganizá-la, a fim de retornar ao ritmo sinusal. Os ritmos considerados chocáveis são somente a taquicardia ventricular sem pulso (TVSP) e a fibrilação ventricular (FV). Dessa forma, se a vítima apesentar ritmos como atividade elétrica sem pulso ou assistolia, o DEA não indicará o choque.

                                  
    • Manobras de Ressuscitação Cardiopulmonar
    •  Nesta aula, convidamos você a conhecer e aprofundar seus conhecimentos sobre o atendimento a uma parada cardiorrespiratória com base no suporte básico de vida, que também pode ser descrito como os 4 passos que salvam vidas.

      Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você está em um parque durante um dia ensolarado. De repente, você ouve um grito de socorro vindo de uma área próxima. Ao se aproximar, você vê um homem caído no chão, sem respirar. Logo você percebe que o homem está sofrendo uma parada cardiorrespiratória. Não há profissionais de saúde por perto e o tempo é crucial. Você é a única pessoa capaz de prestar os primeiros socorros. Como você agiria nessa situação? Quais seriam as etapas que você seguiria para realizar os procedimentos de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) de forma eficaz, considerando as técnicas corretas e a importância de manter a calma e agir rapidamente?

      Para entender como realizar esse atendimento inicial, não deixe de ler o conteúdo que preparamos para essa aula, além de acessar os materiais complementares para aprimorar seus conhecimentos! 

    • A parada cardiorrespiratória (PCR) é uma emergência caracterizada pala interrupção súbita de funções vitais do corpo humano, como as atividades circulatórias, respiratórias e do coração. Por sua vez, as manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) têm a finalidade de manter a circulação sanguínea para os órgãos e tecidos, especialmente o cérebro, além de restabelecer a circulação espontânea da vítima ao reverter a PCR. As manobras são padronizadas quanto ao modo de realização e sua sequência, sendo denominadas suporte básico de vida (SBV), um protocolo estabelecido pela American Heart Association (AHA).

      Ele pode ser desenvolvido através de passos simples, denominados 4 passos que salvam vidas: reconhecer precocemente a PCR; acionar o SAMU e solicitar o DEA; realizar RCP de forma imediata e com qualidade; usar o DEA assim que disponível. A partir de agora, aprofundaremos nossos estudos sobre essas 4 etapas, vamos lá?

      Etapa 1: reconhecimento precoce da PCR

      Antes mesmo de realizar o reconhecimento da PCR, é importante avaliar a cena, sinalizar o local e conferir a biossegurança. Em seguida, você deve verificar se a vítima está inconsciente, com ausência de respiração, pois estes são os sinais que caracterizam uma PCR. Para isso, o socorrista deve:

      • Observar a resposta da vítima por meio de estímulo tátil e verbal: para isso, chame-a em voz alta e toque vigorosamente em seus ombros. Se ela não apresentar resposta alguma, significa que está inconsciente.
      • Verificar a respiração da vítima: observe o tórax da vítima ao mesmo tempo que se aproxima do seu rosto para tentar identificar algum movimento respiratório; essa avaliação deve acontecer por 5 a 10 segundos. Em alguns casos, a vítima pode apresentar o que chamamos de respiração agônica ou gasping, um reflexo que o organismo apresenta como uma última tentativa de obtenção de oxigênio. São movimentos respiratórios muito curtos e não efetivos.

      A última atualização do protocolo de SBV não recomenda mais a verificação do pulso da vítima pelo leigo no reconhecimento da PCR, pois isso é considerado um procedimento de difícil realização, e que pode atrasar muito o início da RCP. Segundo as evidências mais atualizadas, o risco de danos à vítima que recebe as compressões torácicas quando não está em PCR é baixo, entretanto, o risco da demora para iniciar a RCP em uma vítima sem pulso é maior que o dano por compressões torácicas desnecessárias.

      O reconhecimento de PCR em lactentes e crianças também se dá pela inconsciência e ausência de respiração. As diferenças em relação ao reconhecimento no adulto, são:

      • No lactente, chamá-lo por meio de palmadas na região plantar, observar a presença de respiração agônica ou gasping, pois indica que a criança não está respirando.
      • Na criança assim como no adulto, chamar a vítima por meio de estímulo tátil nos ombros.

      Etapa 2:acionar o SAMU e solicitar o DEA de forma adequada

      Após a identificação precoce da PCR, o socorrista deve acionar o serviço especializado, nesse caso o Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (SAMU), além de solicitar um desfibrilador externo automático (DEA), caso houver. Para solicitar ajuda de forma adequada, deve-se considerar a quantidade de socorristas:

      • Com dois socorristas, um deve começar o atendimento e o outro realizar a ligação para solicitar o SAMU.
      • Com um socorrista, ele liga para o SAMU e coloca o celular no viva voz, e simultaneamente realiza o atendimento à vítima.
      • Se houver um socorrista e ele não estiver com celular, ele deve ir em busca de ajuda e depois retornar para prestar o atendimento.

      Se você estiver em uma aglomeração de pessoas, ou houver mais do que três socorristas disponíveis para prestar o atendimento, é essencial designar alguém para função de ligar para o SAMU, e para buscar o DEA. Isso é importante para não causar confusão entre as pessoas e evitar de todos executarem a mesma ação, ou mesmo de ninguém tomar a iniciativa. Para isso, olhe fixamente para alguém e indique a ação: “você, chame o SAMU”, “você, busque um desfibrilador”

      Etapa 3:RCP imediata e de alta qualidade

      Nesta etapa, você deve realizar as compressões torácicas e ventilações, necessariamente nessa ordem. Caso o leigo esteja inseguro, ou não possua as máscaras apropriadas para ventilação, as compressões podem ser realizadas de forma contínua, mesmo sem as ventilações. As compressões torácicas são prioridade, pois além de gerar fluxo de sangue para todos os órgãos, promovem ventilação passiva quando a vítima apresenta vias aéreas pérvias. Para a oxigenação adequada dos tecidos, é essencial minimizar as interrupções das compressões torácicas e maximizar a quantidade de tempo em que as compressões torácicas geram fluxo de sangue.

      Portanto, para que sejam efetivas, as compressões torácicas devem ser realizadas de forma adequada, considerando a frequência e profundidade das compressões, o retorno do tórax após cada compressão e mínimas interrupções. As compressões efetivas consistem em:

      • Posicionamento adequado do compressor ao lado da vítima com os joelhos afastados um do outro e apoiados no chão, para melhor estabilidade.
      • Deixar desnuda a região do tórax onde será aplicada a massagem cardíaca.
      • Colocar a região hipotenar de uma mão sobre a metade inferior do osso esterno e a outra mão sobre a primeira, entrelaçando os dedos das mãos, conforme a Figura 1.
      • Posicionar os braços a cerca de 90º acima da vítima, mantendo-os estendidos.
      • Realizar compressões na frequência entre 100-120 compressões/minuto.
      • Realizar compressões com profundidade entre 5-6cm.
      • Observar o retorno completo do tórax após cada compressão.
      • Não fazer força com os braços e sim utilizar o peso do próprio tronco para realizar as compressões.

      Se houver dois socorristas, realizar o revezamento entre eles, no máximo em 2 minutos, para evitar o cansaço e compressões de má qualidade. Pode-se também realizar de forma contínua até a chegada do socorro especializado caso não haja dispositivo para ventilação.

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      Figura 1 | Posicionamento das mãos sobre o tórax na RCP no adulto. Fonte: Shutterstock.

      No lactente, o posicionamento para compressão é com dois dedos ou utilizando a técnica com os dedos indicador e médio (Figura 2A) ou com dois polegares (Figura 2B), e a profundidade de compressão deve ser de 4cm. Já na criança, o posicionamento para compressão deve usar uma ou duas mãos, dependendo do tamanho da criança e do socorrista, e a profundidade da compressão deve ser entre 4 e 5cm. Tanto no lactente quanto na criança, frequência das compressões deve ser de 100-120 por minuto.

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      Figura 2 | Posicionamento das mãos sobre o tórax na RCP no lactente. Fonte: Shutterstock.
    • Agora vamos compreender como realizar as ventilações. Esse procedimento é realizado após abrirmos as vias aéreas da vítima, devendo o ar ventilado ser suficiente para elevar o tórax, com duração de 1 segundo cada ventilação, aplicando 2 ventilações. Lembre-se de que, para abrir as vias aéreas da vítima, você deve utilizar as técnicas de inclinação da cabeça com elevação do queixo, ou anteriorização da mandíbula antes de aplicar as ventilações. Alguns dispositivos podem ser utilizados para a ventilação, considerando que o socorrista esteja devidamente treinado:

      • Boca a boca: utilizado quando não há um dispositivo de barreira disponível. O socorrista deve pinçar o nariz da vítima, abrir as vias aéreas e acoplar sua boca na da vítima e realizar duas ventilações. Essa técnica não é indicada quando você desconhece o histórico de saúde da vítima, devido ao risco de transmissão de diversas doenças.
      • Máscara de bolso (“pocket mask”): possui válvula unidirecional que evita transmissão de microrganismos, pois o ar expelido pelo socorrista chega à vítima, mas o contrário não acontece.
      • Máscara descartável: apresenta plástico impermeável para formar entre a vítima e o socorrista e possui válvula de segurança contra refluxo, de uso único.
      • No lactente: realizar a técnica boca-nariz-boca. A boca do socorrista deve envolver tanto a boca como o nariz do lactente e realizar duas ventilações.
      • No caso de dispositivos de ventilação, deve-se utilizar tamanho adequado para o lactente e a criança, ou inverter a posição da máscara quando ela não apresentar o tamanho adequado. Com o uso de dispositivos, não realizar distensão da cabeça do lactente.

      Com base em todas essas informações, vamos compreender como realizar as manobras de compressão e ventilação:

      • A cada 30 compressões, são aplicadas 2 ventilações no adulto; independentemente da quantidade de socorristas disponíveis, devem ser realizadas 30 compressões e 2 ventilações.
      • Para aplicar as ventilações, o socorrista não deve demorar mais do que 10 segundos, devendo logo em seguida retomar as compressões. Lembre-se de que o socorrista pode optar por realizar somente as compressões contínuas, sem ventilações no adulto.
      • Em lactentes e crianças, se houver somente um socorrista, realizar 30 compressões e 2 ventilações; porém, se houver dois socorristas, realizar 15 compressões e 2 ventilações.
      • Deve-se realizar no máximo 2 minutos de RCP e então realizar a troca com outro socorrista: o que estava comprimindo passa para a ventilação, e vice-versa.

      Desfibrilador externo automático (DEA)

      O DEA é um equipamento portátil que possui um sistema computadorizado, composto pelo aparelho, bateria, pás para uso pediátrico e adulto, lâmina para tricotomia e compressa. Realiza a interpretação do ritmo cardíaco, diagnostica as arritmias cardíacas e trata-as através da desfibrilação (aplicação do choque). O objetivo do choque é restabelecer o ritmo cardíaco da vítima, para reorganizar a atividade elétrica do coração que, se apresentava descoordenada. A seguir você entenderá como utilizar o DEA:

      • Posicionar o aparelho do lado da cabeça da vítima e ligar, ativando os comandos verbais do aparelho que orientam todas as etapas seguintes.
      • Posicione as pás no tórax da vítima (as pás apresentam um desenho indicando o seu posicionamento correto, siga essas instruções).
      • Conecte o aparelho às pás.
      • O DEA dará comandos verbais, indicando que está analisando o ritmo cardíaco. Nesse momento, solicitar que todos se afastem da vítima.
      • Após avaliação do ritmo cardíaco, o DEA pode indicar o choque. Novamente o socorrista deve solicitar o afastamento da vítima.
      • Ao apertar o botão indicado, o choque será produzido, como uma contração repentina dos músculos do paciente.
      • Imediatamente após o choque, realizar as compressões torácicas, reiniciando a RCP. De 2 em 2 minutos, o DEA analisará o ritmo novamente. Se o choque não for solicitado pelo DEA, a RCP deve prosseguir, em casos de persistência da PCR.
      • Se houver retomada da consciência da vítima, prosseguir com o monitoramento do DEA até a chegada do SAMU.
      • Se houver o restabelecimento da respiração e pulso, colocar a vítima em posição lateral de segurança, caso não apresente suspeita de trauma. O socorrista deve permanecer no local até que o SAMU chegue.

      Chegamos ao final de mais uma aula! No decorrer deste material, descrevemos como realizar o atendimento a uma parada cardiorrespiratória com base no suporte básico de vida, que também pode ser descrito como os 4 passos que salvam vidas. Agora, convidamos você a acompanhar a próxima unidade.

    • Agora que você aprendeu sobre o atendimento a uma parada cardiorrespiratória (PCR) com base nos 4 passos que salvam vidas, vamos solucionar a situação-problema referente a um homem que sofreu parada cardiorrespiratória. Você está em um parque durante um dia ensolarado. De repente, você ouve um grito de socorro vindo de uma área próxima. Ao se aproximar, você vê um homem caído no chão, sem respirar. Logo você percebe que o homem está sofrendo uma PCR. Não há profissionais de saúde por perto e o tempo é crucial. Você é a única pessoa capaz de prestar os primeiros socorros. Como você agiria nessa situação? Quais seriam as etapas que você seguiria para realizar os procedimentos de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) de forma eficaz, considerando as técnicas corretas e a importância de manter a calma e agir rapidamente?

      Com base nos conteúdos abordados nesta aula, aprendemos que, diante de uma PCR, o socorrista deve agir rapidamente, com base no suporte básico de vida (SBV), que são os 4 passos que salvam vidas:

      • Passo 1: reconhecimento precoce da PCR

      Para a avaliação inicial, o socorrista deve observar a resposta da vítima por meio de estímulo tátil e verbal. Verificar a respiração da vítima através da observação da expansão do tórax por 5 a 10 segundos. Entretanto, antes de realizar o reconhecimento da PCR, é importante verificar a cena e a segurança, para que a situação não piore ainda mais, e para que o socorrista não ser torne outra vítima.

      • Passo 2: acionar o SAMU (solicitar DEA de forma adequada)

      Para solicitar ajuda de forma adequada, deve-se considerar a quantidade de socorristas, pois, com dois, um deve começar o atendimento e o outro realizar a ligação para solicitar o SAMU. No caso de haver só um socorrista, ele liga para o SAMU e coloca o celular no viva voz, e realiza o atendimento à vítima simultaneamente. Se houver um socorrista e ele não estiver com celular, ele deve ir em busca de ajuda e depois retornar para prestar o atendimento.

      • Passo 3: realizar RCP de forma adequada (imediata e de qualidade)

      Realizar 30 compressões e 2 ventilações com duração de 1 segundo cada, sendo o ar ventilado suficiente para elevar o tórax, utilizando técnica correta de posicionamento e que produza uma frequência cardíaca de 100-120 e profundidade torácica entre 5-6cm. No atendimento realizado por um leigo, podem ser realizadas compressões torácicas contínuas.

      • Passo 4:  uso de DEA, assim que disponível

      O DEA realiza a interpretação do ritmo cardíaco, seleciona o nível de energia e carrega automaticamente, ficando sob responsabilidade do socorrista apertar o botão de choque, quando indicado, e a disposição das pás de forma correta

      Nesse cenário, a ação rápida e eficaz pode fazer a diferença entre a vida e a morte da vítima. Certificar-se de que a ajuda profissional está a caminho e iniciar imediatamente a RCP são passos cruciais para aumentar as chances de sobrevivência da vítima.

    • Observe algumas situações especiais para o uso da DEA, como:

      • Realizar tricotomia se houver excesso de pelos na região do tórax, apenas nas regiões em que serão colocadas as pás.
      • Secar com compressa o tórax, caso apresente-se molhado.
      • Em vítimas com marcapasso, colocar as pás aproximadamente 8cm do aparelho ou posicionar uma pá na região anterior do tórax (no terço inferior do osso esterno) e a outra na região posterior (entre as escápulas).
      • Nas vítimas com adesivo medicamentoso, este deve ser retirado apenas se estiver presente nos locais de colocação das pás.

      Para conhecer mais sobre o uso do DEA no atendimento à PCR realizada por leigos, convidamos você a consultar o seguinte artigo:

      1. Uso do Desfibriladores externos automáticos (DEA) por pessoas leigas no atendimento pré-hospitalar: uma revisão integrativa da literatura. Research, Society and Development, v. 10, n. 7, e36110715989, 2021.
      2. Referências