O que é avaliação nas práticas clínicas corporais?
O uso das práticas integrativas tem contribuído com resultados positivos na saúde pública em geral e, diante disso, a importância da integração destas na prática clínica.
Sabemos que essas práticas trazem benefícios tanto para o processo saúde-doença, quanto para a forma de reequilibrar o organismo contribuindo para a qualidade de vida dos indivíduos.
Ao entender esse processo de cuidar, como deverá ser avaliado esse cliente? Será que existe algum instrumento, alguma ferramenta que auxilie nesse processo? O que realmente precisamos saber antes da indicação das terapias integrativas?
Vamos conhecer a aplicabilidade da anamnese quando pensamos nas práticas integrativas?
Segundo o dicionário, por definição, a anamnese é o histórico que deve ser coletado no primeiro encontro com o cliente a fim de investigar a queixa, os sintomas, até o momento da observação. O primeiro contato em um atendimento ao cliente exige profissionalismo e atenção técnica, para que dessa forma possamos descobrir suas necessidades e informações importantes e relevantes.
A palavra anamnese tem como significado memória/recordação e é utilizada na área médica para definir o conjunto de informações coletadas pelo profissional na conversa inicial com o cliente. Esta coleta de dados é usada há tempos sendo aplicada desde a Grécia antiga com o intuito de conhecer as alterações, sinais e sintomas de determinada doença e que na área da saúde é usada como forma de investigação para chegar a um diagnóstico.
Dentro deste conceito, o registro dessas informações pode ser realizado por meio de um questionário ao qual se dá o nome de ficha de anamnese. É por meio desta ferramenta que são registradas as informações referentes aos hábitos de vida de nosso cliente, o histórico das doenças e tratamentos que tenha realizado, uso de medicamentos, possíveis alergias, enfim, dados que nos possibilite realizar o nosso trabalho com a responsabilidade que ele requer.
Ao trabalhar com as terapias integrativas, fará interferências no funcionamento do organismo do indivíduo e, para tanto, faz-se necessário o conhecimento do histórico bem como os hábitos de vida do seu cliente e pensado e ao avaliar o cliente sob a perspectiva de alguma MTCI (medicinas tradicionais, complementares e integrativas) devem-se levar em consideração todos os sinais e sintomas apresentados na anamnese e no exame físico.
Em um primeiro contato com o cliente, é imprescindível que seja realizada a anamnese que consiste em uma entrevista, ou seja, na coleta de dados, pois será através dela que o profissional irá conhecer o perfil do seu cliente para direcionar os procedimentos. Uma anamnese, como qualquer outro tipo de entrevista, possui formas e técnicas para a sua aplicação. Em um primeiro momento o profissional deverá explicar para o cliente o porquê da realização desta coleta de dados e a linguagem a ser usada deve ser simples e objetiva.
Os objetivos gerais da anamnese são:
- Identificar o indivíduo.
- Criar vínculo entre o profissional e o indivíduo.
- Obter os elementos da história clínica.
- Conhecer os fatores pessoais, sociodemográficos e históricos relacionados com a queixa.
- Obter elementos para guiar o exame físico.
A anamnese também pode contribuir para:
- A determinação de uma estratégia de investigação complementar.
- A elaboração de um diagnóstico clínico.
- O direcionamento terapêutico de acordo com o entendimento global do indivíduo.
- O estabelecimento dos objetivos do tratamento.
- O acompanhamento dos resultados das intervenções realizadas
Para a condução dessa entrevista deve ser elaborado um questionário e estes devem apresentar perguntas fechadas, objetivas, que são aquelas cujas respostas são sim ou não e perguntas abertas que o cliente expõe e fala abertamente sobre determinado assunto e, neste momento, o profissional deverá investigar para que obtenha o máximo de informações de seu cliente.
Os itens questionados irão nos mostrar a queixa principal e secundária do cliente, ou seja, o motivo pelo qual foi a procura pelas terapias integrativas, o estilo de vida, os hábitos de vida, histórico de doenças, alergias, uso de medicamentos, tratamentos médicos e que são necessárias, e de suma importância para que o profissional escolha o tratamento adequado sem provocar nenhum desconforto para o cliente além de personalizar e traçar uma conduta adequada para cada caso de maneira específica e direcionada. Os dados que devem ser coletados são aqueles que identifiquem o cliente e relate o seu histórico de vida.
Termos da Ficha de Anamnese
Dados pessoais ou Identificação
Pode ser chamado também de dados cadastrais, e que deve conter as informações para a identificação do cliente como o nome, endereço, cidade, telefone, data de nascimento, sexo, profissão, estado civil, e de suma importância um telefone de emergência caso ocorra alguma intercorrência. Com o preenchimento desses dados, o profissional terá as informações completas do cliente que além de usá-lo para a identificação, poderá contatá-lo quando necessário.
Queixa e duração
É fundamental conhecer a queixa do cliente, ou seja, o motivo que o fez procurar os serviços de saúde e as terapias integrativas. Uma estratégia para abordar a queixa principal é por meio de uma questão aberta que gere reflexão. Indagações como “O que te trouxe aqui hoje?” ou “Como posso te ajudar?”, “A quanto tempo isso incomoda”?
A partir do momento em que os dados pessoais e a queixa principal são conhecidos, deve-se passar para o próximo passo dentro da anamnese que é a coleta do histórico de vida da cliente e seus hábitos que podem influenciar e agravar determinadas alterações. Essa parte da anamnese é chamada de história pregressa da vida do cliente.
História Pregressa
A história pregressa do indivíduo também é um fator determinante no sucesso do tratamento com as terapias integrativas e complementares. Esta deve conter os eventos que precederam a queixa principal, ou seja, as condições gerais que possam explicar ou não a situação do indivíduo.
Além da investigação de tratamentos já realizados, procedimentos cirúrgicos, uso de medicamentos e terapias conservadoras, a coleta da história pregressa pode trazer informações importantes para conhecer o cliente.
Avaliação
Cada sistema da MTCI (medicina tradicional, complementar e integrativa) apresenta características e formatos próprios quando pensamos em uma avaliação e ou exame físico.
No caso da Medicina Tradicional Chinesa, por exemplo, um dos lugares examinados é a base da língua por exemplo. Independentemente disso, convém avaliar a maior quantidade de aspectos físicos do paciente para que se possa obter a maior quantidade possível de informações. Inspeção, audição, olfação, palpação, ausculta, enfim, todas as técnicas descritas de exame físico podem trazer informações importantes à elucidação do caso.
Vamos Exercitar?
A situação-problema desta Aula nos apresentou o caso da Júlia, uma estudante de terapias integrativas e complementares que está querendo entender melhor sobre a importância da anamnese e da avaliação nas práticas integrativas.
Para ajudarmos Júlia a compreender a importância da anamnese e da avaliação pensando no indivíduo como um todo (nos aspectos biológicos, psíquicos e social), vamos voltar ao antigo modelo biomédico de saúde, em que o tecnicismo e a visão fragmentada do indivíduo são fatores que prejudicam o raciocínio clínico a partir dos achados da avaliação, diminuem a interdisciplinaridade, dificultam a integração da evidência científica com a prática clínica e, consequentemente, enfraquecem os resultados terapêuticos.
Diante disto, a coleta de dados do indivíduo deve sempre estar voltado à identificação de aspectos físicos, psicológicos, sociais e ambientais que se associam à queixa, ao comprometimento da funcionalidade, seguindo o modelo biopsicossocial que compreende uma abordagem terapêutica multidisciplinar, com foco nas dimensões biológicas, psicológica e social de um indivíduo.
Poderíamos começar auxiliando Júlia a compreender a importância de uma anamnese estruturada e individualizada. Esta é capaz de identificar um conjunto relevante de sinais, sintomas e outras informações que nortearão o plano de tratamento. A anamnese, exame físico, testes funcionais, estado emocional, condições psicossociais e qualidade de vida são indicadores fundamentais para o estabelecimento de um diagnóstico e indicação das terapias integrativas.
Partindo dessa premissa, a avaliação do indivíduo deve sempre estar voltado à identificação de aspectos físicos, psicológicos, sociais e ambientais que se associam à queixa, ao comprometimento da funcionalidade, seguindo o modelo biopsicossocial que compreende uma abordagem terapêutica multidisciplinar, com foco nas dimensões biológicas, psicológica e social de um indivíduo.
Importante destacar, ainda, que cada indivíduo é um ser único e uma boa anamnese e avaliação é fundamental para o estabelecimento da aliança terapêutica e para a compreensão do estado global do indivíduo, considerando aspectos biológicos, psicológicos e sociais a partir do autorrelato do cliente.
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Sugestão de capítulo de livro
O fato de a medicina integrativa estar voltada, antes de tudo, para a cura e não para a doença, demanda a compreensão das influências de corpo, mente, espírito e comunidade. Implica, ainda, o desenvolvimento de uma visão sobre a cultura, as crenças e o estilo de vida do paciente, a fim de entender a melhor forma de desencadear as mudanças necessárias que resultarão na melhoria da saúde.
Ao ler o capítulo 50 do livro Medicina Integrativa na Prática Clínica, você terá a oportunidade de compreender os conceitos que envolvem a medicina integrativa e a sua relação com as práticas integrativas.
MARIANI, M; GHELMAN, R. Medicina Integrativa na Prática Clínica. Santana de Parnaíba: MANOLE, 2021.
Sugestão de artigo científico
Para conhecer um pouco mais sobre as práticas integrativas na atenção primária, segue sugestão de artigo: MILDEMBERG, R.; et al. Práticas Integrativas e Complementares na atuação dos enfermeiros da Atenção Primária à Saúde. Escola Ana Neri, v.27, 2023. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/ress/2022.v31n3/e2022314/.
A hidroterapia consiste no tratamento pela água como recurso terapêutico, realizado de diversas maneiras e usando diferentes temperaturas. Esse recurso natural tem ação nos diversos sistemas corporais como o nervoso, circulatório, musculoesquelético e o respiratório.
É importante saber que temos uma divisão quando pensamos no uso da água como recurso terapêutico. A hidroterapia é o nome utilizado para o tratamento com a água comum, a Crenoterapia quando é utilizado a água mineral, sendo uma prática terapêutica que utiliza águas minerais com propriedades medicinais, de modo preventivo ou curativo, em complemento a outros tratamentos de saúde.
E o Termalismo é a utilização da água com propriedades físicas, térmicas. Os diferentes modos de aplicação terapêutica da água recebem os nomes de termalismo social, balneoterapia e talassoterapia.
No Brasil, o termalismo e a crenoterapia, ou seja, o conjunto de práticas terapêuticas que utiliza, de modo preventivo ou curativo, águas minerais com propriedades medicinais voltou a receber atenção do Ministério da Saúde após a aprovação, em 2006, da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
Na civilização egípcia encontramos relatos históricos de mais de 3.000 anos, documentos relatam a parte mística e religiosa do uso das águas, onde a purificação do espírito acontecia através do ato sagrado de banhar-se, relatos apontam que os egípcios tomavam de três a quatro banhos diários com o intuito da purificação.
Os banhos eram preparados com óleos perfumados, e as jovens tomavam-o de joelhos sobre um tapete e sobre seu corpo e cabeça eram derramados água perfumada com canela, mirra e açafrão. Esse ritual afugentou essa civilização de várias epidemias e pragas comuns à Antiguidade.
Para os cretas, que faziam parte da civilização grega, o contato com água integrava o processo de educação dos jovens, e que de acordo com a história o indivíduo bem educado dominava a leitura, assim como praticava a natação. Um dos locais onde o ato de banhar-se foi prosperado foi na Grécia, naquela época os banquetes eram luxuosos e incluíam uma sessão de banho para os convidados.
Por sua vez, os romanos realizaram a construção das termas, construções com espaços com saunas e diversas piscinas. Ligeiramente semelhantes aos resorts do mundo contemporâneo, algumas dessas construções romanas também contavam com bibliotecas, jardins e restaurantes.
A Idade Média foi marcada pelo repúdio ao banho, o papa Gregório I citava que o contato com o corpo era a proximidade do pecado, e o banho se transformou em uma atividade anual e acontecia em um simples barril de água e diariamente a higiene corporal era realizada através de panos úmidos.
Nessa época, os médicos acreditavam que as doenças consistiam em manifestações malignas que tomavam o corpo do indivíduo por meio de suas vias de entrada. A partir dessa premissa, a classe médica concluiu que o banho em excesso alargava os poros da pele e, com isso, deixava o sujeito suscetível às doenças.
Mais tarde entre os séculos XVI e XVII, acreditava-se que as doenças e os espíritos malignos tomavam o corpo do indivíduo por meio de suas vias de entrada, e o banho em excesso seria uma das causas, já que eles abriam os poros da pele e com isso uma maior suscetibilidade às doenças.
Foi a partir de 1930, no Ocidente, que o banho foi popularizado na população. Após a Segunda Guerra Mundial, o processo de reconstrução de várias casas permitiu que os chuveiros fossem disseminados por toda a Europa.
No Brasil, os povos indígenas já tinham o hábito de tomar banho todos os dias. E esse é um hábito bem presente até hoje, em todo o Brasil, e é considerado uma das heranças culturais trazidas pelos indígenas.
Durante o século XIX, a hidrologia se desenvolveu na França como disciplina integrante do curso de medicina, e nela se inseriu a hidrologia médica, a qual se refere ao tratamento médico por meio das águas em geral, dividida em hidroterapia, crenoterapia e talossoterapia.
No final do século XVIII, já havia notícias de fontes de águas com propriedades curativas aqui no Brasil. As práticas termais em espaços institucionalizados pela medicina brasileira se iniciaram durante o século XIX, impulsionadas pela descoberta das análises químicas.
Siga em Frente...
Devemos saber, então, que os princípios físicos da água são: densidade relativa, turbulência, fricção, viscosidade, empuxo, pressão hidrostática e tensão superficial. Cada um desses princípios exerce determinada resposta nos órgãos e sistemas.
A pressão hidrostática segue e lei de Pascal que cita que a pressão do líquido é exercida de maneira igual em toda a superfície corporal e em todas as direções e varia de acordo coma profundidade e densidade do líquido, ou seja quanto maior a profundidade, maior será́ a pressão exercida.
Quando estamos imersos em água, total ou parcialmente, há uma força que atua no sentido contrário à força da gravidade. Essa força é o empuxo (ou força de flutuação), o qual faz com que flutuemos na água. Outras propriedades da água são a viscosidade (atrito interno do líquido) e a tensão superficial (força exercida entre as moléculas da superfície da água).
Vamos Exercitar?
Agora que você conheceu o histórico do uso da água, e as propriedades físicas vamos pensar na ação no organismo e de que forma podemos trabalhar com elas.
A água revela qualidades terapêuticas, quando aquecida provoca vasodilatação, aumentando a circulação e a nutrição das partes aquecidas e contribuindo para o alívio de dores, relaxamento e desintoxicação diminui o espasmo muscular, a rigidez e alivia a dor, bombardeando o sistema nervoso de informações.
O sistema musculoesquelético é um dos que mais sofrem os efeitos da imersão. Graças ao empuxo temos uma diminuição do peso corporal, o que facilita os movimentos e diminui a força da gravidade sobre as articulações. Consequentemente, alguns movimentos que são dolorosos e difíceis fora d’água podem ser realizados mais facilmente dentro dela.
A pressão hidrostática e a temperatura aquecida da água diminuem os espasmos musculares e a compressão articular, além de melhorar a distribuição de oxigênio e a nutrição dos tecidos (PARREIRA; BARATELLA, 2011). Para os mesmos autores, o sistema respiratório também sofre a ação da imersão, pois devido à pressão hidrostática, há um aumento do volume central e maior compressão da caixa torácica e do abdômen, gerando um aumento do trabalho respiratório.
O principal efeito da imersão sobre o sistema nervoso é a diminuição da sensação dolorosa. A vasodilatação periférica que ocorre nas articulações e nos músculos alivia a dor e o espasmo muscular, havendo uma progressiva elevação do limiar da dor, e, com isso, o relaxamento.
Durante a imersão em água aquecida, os estímulos sensoriais competem com os estímulos da dor. É a pressão hidrostática da água que estimula imediatamente a circulação periférica e melhora o retorno venoso, ajudando na absorção e/ou prevenção de edemas na reação de equilíbrio.
O efeito da água fria ou gelada é a vasoconstrição, diminuindo o metabolismo local e contribuindo para restringir as áreas com micro lesões ou inflamações, além de tonificar os músculos e aumentar o estado de alerta e atenção.
As possibilidades de atuação na hidroterapia são muitas: pode ser realizada em piscinas e banheiras aquecidas, em as estâncias termais e hidrominerais (balneoterapia, crenoterapia e termalismo) e no mar ou em ambientes que simulem as características do ambiente marinho (talassoterapia). Pode ser aplicada também na forma de duchas, saunas, compressas, banhos de imersão total ou parcial em banheiras de hidromassagem; e quando pensamos nas práticas integrativas associá-la a cromoterapia e aromaterapia.
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Sugestões de capítulos de livro
Aprimore seus conhecimentos sobre os efeitos fisiológicos da imersão com a leitura do capítulo “Efeitos fisiológicos da imersão” do livro Fisioterapia Aquática disponível em nossa Biblioteca Virtual.
VASCONCELOS, G.; et al. Fisioterapia Aquática. Porto Alegre: SAGAH, 2021.
Sugestão de artigo científico
Este artigo trata as potencialidades e desafios para a saúde coletiva quando pensamos no Termalismo e crenoterapia.
HELLMANN, F.; DRAGO, L. Termalismo e crenoterapia: potencialidades e desafios para a saúde coletiva no Brasil. MPHC. Journal of Management and Primary Health Care. v. 8, n. 2, 2017.
Outras sugestões
Segue alguns websites interessantes que trazem informações a respeito das práticas integrativas corporais.
OMS – Organização Mundial da Saúde. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2014-2023. Hong Kong, China: OMS, 2013.
Vamos Começar!
A origem do termo Qualidade de Vida (QV), apareceu por volta do ano de 1950 na Inglaterra, após estudos realizados por Eric, Trist e outros colaboradores. Estes pautaram-se no trinômio: trabalho, organização e indivíduo. Diante desta abordagem que o indivíduo e sua satisfação em relação ao trabalho e com a organização aparecem no contexto da qualidade de vida (SILVA, 2014).
Qualidade de vida engloba saúde e bem-estar nos vários ambientes em que o ser humano está inserido, Hipócrates em 460 a.C já entendia como saúde um equilíbrio entre (corpo, mente e espírito).
O crescente interesse sobre a temática, fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reunisse especialistas sobre saúde e QV de diversas regiões do mundo para formar um grupo de estudos dentro de uma perspectiva transcultural (GORDIA et al., 2011), nela cita que qualidade de vida é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.
De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), saúde é um estado de completo bem-estar físico, social e mental, e não somente a ausência de doenças. Neste contexto, a qualidade de vida, deve ser o resultado da soma do meio ambiente físico, social, cultural, espiritual e econômico onde o indivíduo está inserido.
De acordo com a definição, percebe-se que a qualidade de vida é algo muito particular, e difere-se, de acordo com as crenças pessoais, saúde física e psicológica de cada indivíduo, em consonância com o meio em que está inserido.
Apesar da crescente mudança de enfoques quando se investiga e se pratica QV (qualidade de vida) verificou-se que esse construto permite perspectivas, objetivos e práticas diferenciados, como econômica, demográfica, antropológica, bioética e, mais recentemente, ambiental e de saúde pública.
Pode ser definida, também, como nível de saúde física, espiritual e psicológica de um indivíduo, grupo ou população através de avaliações subjetivas. Uma rede de fenômenos e situações que apresentam uma importante relação como a longevidade, estado de saúde, satisfação no trabalho, relações entre os familiares e amigos, e de forma objetiva é ter equilíbrio corpo, mente e espírito.
Desse modo, a QV é verificada em várias acepções e relacionada à saúde, moradia, lazer, hábitos de atividade física e alimentação, resultando em fatores que geram uma percepção positiva de bem-estar (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012), determinados por condições mentais, ambientais e culturais (MINAYO et al., 2000). Assim, deve considerar inúmeras variáveis que a compõem e os vínculos entre elas (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012).
Alguns indicadores medem a qualidade de vida do indivíduo, sendo que a maioria deles foi escolhido levando em conta o impacto causado pelos fatores analisados na qualidade de vida das pessoas.
Um dos instrumentos utilizados é World Health Organization Quality of Life (WHOQOL, 2000), esse questionário reflete a capacidade de um indivíduo para desempenhar as atividades da vida diária, levando em consideração a idade e o papel social, e pode ser apresentado em sua versão completa ou resumido, sendo que a em sua versão reduzida é composta por 26 questões.
Outro instrumento usado é a Roda Viva, esse é um instrumento bastante utilizado nos programas de coaching. Foi criado por Paul J. Meyeré e é constituído por um círculo com oito, dez ou 12 partes, em um formato de gráfico do tipo pizza. O principal objetivo deste instrumento é visualizar a situação atual de um indivíduo tendo como finalidade planejar qual será a sua situação ideal no futuro.
Os domínios da roda da vida e o que cada um desses domínios leva em consideração – Pessoal: saúde, disposição, desenvolvimento intelectual e equilíbrio emocional; - Profissional: realização, propósito, recursos financeiros e contribuição social; Relacionamentos: família, desenvolvimento amoroso e vida social; Qualidade de vida: criatividade, hobbies e diversão, plenitude, felicidade e espiritualidade.
Dentro deste contexto de qualidade de vida, saúde e bem-estar, deparamo-nos com os spas, onde sua história remonta a tempos muito antigos, quando a concepção dos ideais de saúde e cura ainda estava nos primeiros estudos.
A literatura associa a palavra spa está com uma cidade belga onde foram encontradas as primeiras termas sendo as águas utilizadas para fins terapêuticos, para outros historiadores esta origem refere-se ao termo em latim “Salut per Aqua” ou “Solus per Aqua”, que significa “saúde advinda da água”. Outra nomenclatura que pode ser encontrada Spagere que tem como significado umidificar, molhar, borrifar.
O histórico do uso das águas remonta a Antiguidade, na Idade Média os gregos usavam a água gelada para banhar os guerreiros, como forma de recuperar as lesões, os hebreus banhavam-se no Mar Morto pois acreditavam nas propriedades terapêuticas das águas.
Na Idade Moderna os ingleses foram responsáveis pelo surgimento da Talassoterapia terapia que utiliza produtos marinhos como as algas e os sais. Na Idade Contemporânea os austríacos começaram a desenvolver a hidroterapia.
No século XX com um conceito mais moderno, o spa consiste em um local, um espaço onde se faz tratamentos utilizando como recurso a água, pensando sempre na saúde pela água, e esses tratamentos são agregados com diferentes técnicas como as técnicas integrativas. Ao longo dos séculos, vários serviços foram incorporados ao conceito de spa, desde tratamentos de emagrecimento até programas de beleza, meditação e saúde.
Siga em Frente...
No Brasil, a concentração de spas está nos grandes centros urbanos e que vem crescendo a cada ano. O crescimento do mercado de spa’s no Brasil é atribuído ao novo perfil dos consumidores, focados na melhor qualidade de vida e à prevenção de doenças causadas pelo sedentarismo e estresse.
Esta cultura foi trazida ao Brasil pela empresária Ala Szerman que, em 1984, arrendou o Hotel Jequitimar, no Guarujá, litoral do estado de São Paulo. Ela foi pioneira na aplicação do conceito de Spa no Brasil, sendo uma das fundadoras e ex-presidente da ABC e Spa (Associação Brasileira de Clínicas e Spas) em 2002; no decorrer de sua carreira desenvolveu inúmeras técnicas para este mercado. O crescimento da indústria de Spas trata-se de uma tendência mundial. Que se apresenta em constante crescimento no mercado internacional e nacional.
A busca por tratamentos terapêuticos que visam o relaxamento e antiestresse do dia a dia vem aumentando com o passar do tempo. O SPA day, ou day SPA, possuem ambientes aconchegantes, podendo estar agregados a um hotel (SPA hotel/resort) ou ter seu espaço próprio, tendo como foco principal a estética, estando aberto para o público local e turistas.
Os Spas tornaram-se um fenômeno nos últimos tempos e tornou-se indispensável na vida de muitas pessoas, seja por necessidades fisiológicas, ou para acompanhar a moda e o consumo de produtos e serviços.
Vamos Exercitar?
Marcos Vinicius e Júlia são amigos que estão fazendo a graduação na área da saúde. Neste semestre estão cursando juntos a disciplina de Terapias Alternativas e Qualidade de Vida no curso de Terapias Integrativas e Complementares. Na primeira aula, eles se depararam com o conceito de qualidade de vida e estão tentando encontrar a relação com as terapias integrativas, vamos ajudá-los?
Vamos começar sugerindo uma pesquisa sobre os instrumentos utilizados para a avaliação da qualidade de vida, e essa pode ser avaliada através de forma individualizada, grupo ou população, através de instrumentos de avaliações subjetivas e/ou objetivas. Os instrumentos utilizados para avaliar a qualidade de vida, que são: WHOQOL, SF 36, roda da vida.
Uma forma de proporcionar qualidade de vida é proporcionar bem-estar e um dos locais são os spas que trazem uma variedade de serviços que proporcionam saúde, bem-estar e qualidade de vida.
Os spas incorporam terapias integrativas em seus programas para promover o bem-estar holístico dos clientes, através de protocolos que consideram os aspectos emocionais, mentais e espirituais com o foco na saúde e no bem-estar.
Saiba mais
Para saber mais sobre o assunto, leia este artigo que apresenta informações da relação do turismo, spa e qualidade de vida.
Nesse artigo você encontrará informações sobre os diferentes tipos de instrumentos para avaliar a qualidade de vida.
Neste link você encontra informações sobre o instrumento para quantificar a qualidade de vida.
No Brasil existe uma Associação Brasileira de Estética e Spas, sugiro o acesso à página pois lá você irá encontrar informações relevantes sobre os spas.
Como sugestão de capítulo de livro disponível na Biblioteca virtual o capítulo 2 do livro Guia de Qualidade de Vida: saúde e trabalho.
DINIZ, D. Guia de Qualidade de Vida: saúde e trabalho. Barueri, SP: Manole, 2013.
Vamos Começar!
O segmento de turismo de saúde, o mercado de spas e a emergente tendência de comportamento e consumo geradores da indústria do bem-estar, movimentam bilhões de dólares no mundo. Ao longo dos séculos, vários serviços foram incorporados ao conceito de spa, desde tratamentos de emagrecimento até programas de beleza, meditação e saúde.
A atual ideia do setor de spas é de ofertar aos turistas algumas mudanças no estilo de vida, vinculados as ofertas de lazer, saúde do corpo e da mente, associadas ao bem-estar pessoal e familiar, em locais que se possa encontrar também conforto e sofisticação aliados aos demais benefícios.
A Associação Brasileira de Clínicas e Spas do Brasil (ABC - SPAS), está localizada em São Paulo, e criou esse conceito de acordo com o destino e a especialidade.
Classificação dos Spas de acordo com o destino
Spa de Destino: estabelecimento com estrutura de hospedagem e alimentação, que apresenta foco integral na saúde, bem-estar e qualidade de vida. E o Brasil conta com alguns spas que oferecem esses tipos de serviço, antigamente voltados apenas para o emagrecimento e atualmente pensando em uma alimentação saudável com o intuito da promoção da qualidade de vida.
Spa Resort/Hotel: estabelecimento independente do resort/hotel, ele está localizado dentro destes estabelecimentos com o intuito de promover qualidade de vida, lazer e entretenimento.
Day Spa ou Spa Urbano: estabelecimento sem estrutura de hospedagem, localizado em áreas urbanas.
Spa passeio: estabelecimento localizado dentro de estruturas voltadas para entretenimento ou transporte. Incluem estruturas fixas de entretenimento ou veículos de passeio, como clubes de campo, golfe e praia, clube, navios, trens. O exemplo mais comum desse tipo de spa é o navio.
Classificação de acordo com a especialidade
Spa Naturista: estabelecimento voltado para as práticas baseadas na Medicina Naturista, tais como a homeopatia, fitoterapia, acupuntura, as quais promovem saúde por processos naturais de tratamento.
Spa Médico: estabelecimento que promove a saúde e o bem-estar por meio de cuidados médicos.
Spa Holístico: estabelecimento com foco na promoção da saúde através de serviços baseados na Medicina Alternativa, direcionados ao equilíbrio entre corpo, mente e espírito.
Spa de Esporte e Aventura: estabelecimento com serviços voltados para o lazer e entretenimento, com programas de qualidade de vida realizados através de atividades físicas e de exercícios direcionados.
Spa Nutricional: estabelecimento com o objetivo de orientação nutricional, desintoxicação e reeducação alimentar, apresentando cozinha especializada e balanceada, bem como outros serviços terapêuticos de promoção da saúde humana.
Assim, “o objetivo principal do centro spa é conseguir a satisfação de seus clientes para potencializar a captação de novos clientes e a fidelização do cliente conquistado” (PEREIRA, 2018, p. 461).
O ambiente de spas deve ser um lugar aconchegante, com um ambiente cuidadosamente projetado para proporcionar uma experiência única e tranquila.
Siga em Frente...
Podemos elencar alguns elementos-chave que contribuem para a criação de um ambiente de spa acolhedor e convidativo.
A iluminação de um spa deve ser aconchegante, suave e difusa, criando uma atmosfera relaxante, evitando a luz direta. Uma opção é usar as velas aromáticas ou lâmpadas com intensidade ajustável, criando um ambiente intimista. As cores neutras são bem-vindas, tons brancos, bege, verde suave ou azul claro, cores suaves calmantes contribuem para a sensação de tranquilidade.
O aroma do ambiente é imprescindível para criar um ambiente ainda mais aconchegante com fragrância suave que estimulem os sentidos, incensos, e difusores, as propriedades dos óleos essenciais podem contribuir para um ambiente agradável e relaxante.
A música ambiente com uma trilha sonora com sons instrumentais, sons da natureza contribuem para criação de um ambiente relaxante.
A decoração deve ser minimalista, evitando exageros. Uma boa opção é a interação com elementos naturais como plantas, pedras, esses elementos criam uma conexão com a natureza, promovendo a sensação de serenidade. O mobiliário confortável e minimalista, mantendo o espaço organizado e sem excesso de elementos, assim como a disponibilização de áreas confortáveis para os clientes como poltronas confortáveis, espaços para relaxamento.
Os grandes spas possuem uma variedade bastante grande de serviços ofertados e que tem como objetivo principal promover saúde, bem-estar e qualidade de vida. Os serviços podem variar dependendo do tipo de spa, sua localização e seu foco específico, tais como técnicas de spa, massagens, tratamentos estéticos, banheiras, jacuzzis, terapias aquáticas, sauna.
Vamos Exercitar?
Para garantir sucesso, o seu desafio é proporcionar um momento único ao cliente. Assim, quais os requisitos necessários quando pensamos no spa enquanto empreendimento?
O gerenciamento eficaz de um spa envolve uma combinação de habilidades administrativas, conhecimento da indústria de bem-estar, foco no cliente e capacidade de liderança, além do conhecimento do mercado, e dos serviços prestados.
É muito importante um planejamento estratégico em que os objetivos e as metas estejam definidos, assim como o público-alvo e os serviços ofertados. Os profissionais devem ser qualificados, comunicativos, experientes no mercado das terapias de spas e que priorize o atendimento ao cliente, unindo as habilidades interpessoais e os conhecimentos técnicos.
Outro ponto importante é desenvolver estratégias de marketing para atrair novos clientes e manter os existentes, garantindo a qualidade nos serviços ofertados.
Saiba mais
Neste link, você encontrará um vídeo com informações referentes ao mercado dos spas no Brasil.
Neste artigo, você encontrará informações sobre o comportamento do consumidor no turismo e bem-estar.
Este artigo apresenta informações sobre Spas e Centros Terapêuticos.
Sugerimos, também, a leitura do capítulo 11 do livro Spas e salões de beleza – terapias passo a passo.
MOREN, S. Spas e salões de beleza – Terapias passo a passo. São Paulo: Cengage, 2006.
Referências
ALMEIDA, M. A. B.; GUTIERREZ, G. L.; MARQUES, R. Qualidade de vida: definição, conceitos e interfaces com outras áreas de pesquisa. São Paulo: Escola de Artes, Ciências e Humanidades - EACH/USP, 2012.
AVILA, M.; GOMES, C.; FILHO, A. Métodos e Técnicas de Avaliação em Dor Crônica. Abordagem Prática. Santana de Parnaíba: Manole, 2023.
BARROCO, C.; TOMBI, C. Terapias Alternativas em Estética. Porto Alegre: Sagah, 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Glossário Temático: práticas integrativas e complementares em saúde. Secretaria-Executiva, Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde para os Gestores do SUS. Livreto 1 – Contexto histórico da institucionalização das práticas integrativas e complementares em saúde no SUS. Departamento de Saúde da Família. Coordenação Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. Brasília, Ministério da Saúde, 2020.
DINIZ, D. Guia de Qualidade de Vida: saúde e trabalho. 2. Ed. Barueri, SP: Manole, 2013
DOI, M. Spas e Terapias Alternativas. Pearson. Londrina, 2013.
LIMA, P. T. R. Bases da medicina integrativa. 3. ed. Santana da Parnaíba: Manole, 2023. Biblioteca Virtual.
MACHADO, M. et al. Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. Porto Alegre, Sagah,2021.
MARIANI, M.; GHELMAN, R. Medicina Integrativa na Prática Clínica. Santana de Parnaíba: MANOLE, 2021.
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