sábado, 12 de abril de 2025

PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 3

 












A nossa aula de agora, na qual nos aprofundaremos no conceito de aplicação da psicologia em saúde. Para isso, abordaremos conceitos importantes, como interdisciplinaridade, promoção, prevenção e reabilitação em saúde.

Já ouviu falar nesses conceitos? Consegue imaginar como eles ampliarão o seu conhecimento na área e como podem ser aplicados no dia a dia?

Partiremos da seguinte situação-problema para nos orientar: imagine uma unidade de saúde com uma equipe composta por médicos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas e psicólogos, todos trabalhando juntos para oferecer um atendimento integral e de qualidade aos pacientes. Nessa unidade, a interdisciplinaridade é valorizada e a promoção da saúde é uma prioridade. Analisaremos um caso específico que destaca a importância desses princípios na prática.

Maria, uma mulher de 42 anos, chegou à unidade de saúde com uma série de queixas físicas, incluindo dores crônicas nas costas e no pescoço, insônia e fadiga constante. Ela também estava enfrentando dificuldades no trabalho devido a conflitos com colegas e um aumento na carga de seu trabalho. Seu histórico de saúde revelou que ela havia sido diagnosticada com depressão leve há alguns anos, mas não voltou para ser atendida, não recebendo, portanto, o tratamento adequado para esse caso apresentado.

Ao avaliá-la, foi possível perceber que Maria vem apresentando sintomas que “fogem” apenas da esfera biológica (física). Neste caso, como a equipe deverá proceder? O que é possível fazer para auxiliar Maria a conseguir se estruturar e lidar com essas situações que lhe afligem?

Ao final da aula, você deverá compreender esses conceitos e como eles são fundamentais para qualquer profissional que atue na área de saúde. Entendê-los facilitará o seu trabalho, a comunicação e o trabalho de toda equipe.

Vamos lá aprender mais um pouco?

Abordagens psicológicas e interdisciplinaridade

A própria palavra nos traz o significado: inter = que está relacionado, interligado, e disciplina = matéria, abordagens.

No dicionário, a definição de interdisciplinaridade é:

“Capaz de estabelecer relações entre duas ou mais disciplinas, ou áreas do conhecimento, com o intuito de melhorar o processo de aprendizagem, estreitando a relação entre professor e aluno” (Interdisciplinaridade, 2022, [s. p.]).

Já o conceito de promoção de saúde pode ser definido como uma estratégia da área da saúde, que busca melhorar a qualidade de vida da população em geral. Como o próprio nome diz, promover saúde. Aqui, é importante lembrar que a saúde deve considerar também as questões sociais, o contexto de uma população, para ter uma ação ampla e significativa.

E prevenção em saúde, você já ouviu falar?

Prevenir tem o significado de preparar algo, antecipar, chegar antes para evitar algum dano ou mal. A prevenção em saúde traz esse conceito dentro do ambiente específico da saúde. É uma estratégia para evitar que algum dano ocorra na saúde de indivíduos de uma determinada população. Um modelo bem conhecido de prevenção em saúde é a vacinação, que serve para prevenir que pessoas e até mesmo toda uma população se infecte e propague uma doença. Por exemplo, a vacinação contra catapora, difteria, coqueluche, gripe, entre outras doenças. Se elas não são evitadas, podem gerar impactos individuais ou colapsar um sistema de saúde, como vimos nos casos de meningite bacteriana, na década de 1970 e, da Covid-19, mais recentemente.



A psicologia frequentemente se insere na promoção e na prevenção em saúde, compondo, através da interdisciplinaridade, frentes de atuação junto à medicina, ao serviço social, à enfermagem, à nutrição, entre outras áreas. Assim, agregam-se olhares diversos e facilita-se um melhor cuidado das pessoas. Como a psicologia está intrinsecamente associada às interações humanas, ela pode contribuir nas relações entre os usuários do sistema de saúde, nas relações interdisciplinares e na relação entre os usuários e os profissionais de saúde. Com isso, ela pode auxiliar no espaço para integração dos saberes e na facilitação das trocas, em especial, dentro da equipe (Czeresnia, 1999).


E qual o significado de reabilitação em saúde?

Reabilitação, por definição, é a ação e o efeito de reabilitar, ou seja, habilitar novamente algo ou alguém ao seu antigo estado. Em saúde, reabilitação refere-se a devolver uma habilidade ou uma qualidade a alguém que a perdeu (Reabilitação, 2022).


As diversas linhas da psicologia utilizarão diferentes enunciados, mas, de forma geral, ela busca compreender a função do que foi perdido (por exemplo, no adoecimento psíquico) ou de algo deixou de existir (uma resposta esperada na infância que perde sentido e deixa de levar ao mesmo "ganho" na adolescência ou vida adulta) e como é possível restaurar tal perda ou adquirir um novo repertório, sempre visando a uma melhor qualidade de vida. 

Interfaces da psicologia no âmbito da saúde

Para compreender os conceitos mencionados, precisamos entender melhor quais são as interfaces da psicologia no campo da saúde e como ela pode atuar no contexto coletivo, e não no subjetivo, individual.

A psicologia da saúde, segundo definição da Associação Americana de Psicologia (APA), é:

A área que aplica conhecimentos científicos sobre as interrelações entre os componentes comportamentais, cognitivos, sociais e biológicos da saúde e da doença, para promoção e manutenção da saúde; prevenção, tratamento e reabilitação da doença e da incapacidade; e para a melhoria do sistema de saúde. (APA, 2013, [s. p.])

Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 2004), a contribuição das práticas da psicologia busca ampliar o olhar individualizado para o resgate e a valorização de outros contextos que não somente o método biológico e o social, e sim a integração dessas duas frentes.

Portanto, ela deve buscar realizar a interface desses dois modelos. Assim, a psicologia da saúde, além da atuação na população, buscará integrar processos e visões dentro do ambiente de trabalho dos profissionais de saúde, tanto com os usuários de um serviço de saúde como entre as equipes.

Esse campo do conhecimento resgatará a visão do homem de forma integrada, quando não é possível estabelecer uma clara fronteira entre mente e corpo e, eventualmente, separá-los. Nos últimos anos, ela adquire cada vez mais valor no ambiente de saúde, pois, além da visão integral do ser humano, ela também busca a integração e o bem-estar das equipes de trabalho, a pesquisa em saúde e a renovação das políticas públicas para transformar o todo, e não apenas o indivíduo, o doente ou a doença.

Saindo do senso comum, podemos entender que a promoção em saúde não visa à doença em si, mas, sim, à promoção dos aspectos físicos, sociais e psicológicos dos indivíduos e das subjetividades individuais. Já a prevenção busca evitar o surgimento do adoecimento através do uso correto dos métodos de saúde e suas aplicações.

Traduzindo para a prática, para atuar com prevenção e promoção de saúde, precisamos, primeiramente, entender quem é a população-alvo e quais são suas necessidades. Essa investigação é feita dentro do seu contexto, ou seja, no ambiente em que esses grupos estão inseridos, e pode envolver uma, diversas ou todas as equipes de um serviço de saúde.

Prevenção está ligada à possibilidade de evitar, por meio de antecipação, danos à saúde. Seja do adoecimento (prevenção primária), da consequência do adoecimento (prevenção secundária) ou das sequelas de longo prazo (prevenção terciária). E como isso pode ser pensado?

Sabemos que, para pensar em prevenção, os melhores resultados em termos de custo-benefício envolvem a atuação em diversas frentes, e para isso devemos refletir sobre a possibilidade de ação conjunta das diversas equipes de um sistema de saúde. Como você deve ter percebido, a interdisciplinaridade é crucial. Quando nos utilizamos dos diversos pontos de vista de cada área, dos diversos conhecimentos, conseguimos ampliar a visão de uma determinada situação e enxergar os fenômenos envolvidos de forma mais integrada, completa e em toda a sua complexidade.

A prática da interdisciplinaridade envolve a premissa de que os indivíduos devem construir sua autonomia, tenham capacidade para criar seus valores e normas individuais e, com isso, estejam mais aptos a lidar com o mundo, mesmo diante de dificuldades, limites e sofrimentos. Dessa maneira, eles podem ampliar seus espaços de participação, possibilitando um maior controle social sobre as ações de saúde e viabilizando a conquista constitucional do direito à saúde (Dalbello-Araujo, 2005).

Por meio desse direcionamento, promovemos também saúde, gerando autonomia e conhecimento para que cada um possa buscar ferramentas para lidar com a saúde e com as perspectivas individuais de qualidade de vida. Para isso, integraremos quatro frentes: biologia humana, ambiente, estilo de vida e organização da assistência à saúde.

A promoção em saúde não é uma nova teoria geral sobre saúde, mas, sim, uma estratégia que se ancorará nos conhecimentos das diversas áreas. Sendo assim, a ideia é a de questionar o modelo biomédico, não para negá-lo ou substituí-lo, e sim para ultrapassá-lo em seus resultados, ampliar as suas possibilidades e superar suas limitações.

Quando pensamos em reabilitação do paciente, estamos mencionando a possibilidade de ele se reconstituir como um sujeito em suas melhores condições, certo? Tornar o sujeito apto novamente a realizar atividades que antes realizava não é tarefa fácil, pois precisa de uma integração do paciente no ambiente de saúde, além de grande troca com a equipe interdisciplinar, uma vez que o processo de consolidação dos objetivos terapêuticos necessita da intersecção de diversas áreas.

Ser agente na promoção de saúde

Você consegue imaginar como podemos ser agentes na promoção de saúde?

Inicialmente, para planejar as ações, devemos reconhecer e levar em conta todo o contexto dos indivíduos, ou seja, o sujeito e sua família, sua condição de trabalho e renda, a alimentação e as possibilidades de lazer. Ainda, é fundamental compreender que o sujeito é o dono da ação, inclusive para a formulação de novas políticas públicas que possibilitem aos indivíduos e às comunidades a realização de escolhas a favor da qualidade de vida e da saúde.

Tornar o sujeito capaz de buscar o próprio bem-estar é imperativo, para isso devemos dar autonomia a ele por meio do conhecimento de sua condição e possibilidades de escolhas. Dessa forma, devemos possibilitar a autonomia dos sujeitos e das coletividades, procurando estabelecer possibilidades crescentes de saúde coletiva e solidária para problemas que também são coletivos. Nesse sentido, essas ações são

“intervenções sustentadas pela articulação intersetorial e de participação social voltada para a consecução do direito à saúde, operando ações que visem à melhoria das condições de vida” (Pedrosa, 2004, p. 618).

Para que essa autonomia e promoção de saúde aconteçam, precisamos de um ambiente de trabalho integrado e saudável também, ou seja, precisamos cuidar da equipe de saúde, que pode estar adoecida também.

Como fazer isso com as equipes?

Precisamos esclarecer alguns pontos, como o planejamento de serviços, a escala de prioridades, a redução da duplicação dos serviços, a geração de intervenções mais criativas, a redução de intervenções desnecessárias pela falta de diálogo entre os profissionais e a redução da rotatividade dos profissionais (Staudt, 2008).

Você sabe como construir um ambiente de qualidade e integração para a equipe?

Para isso, é fundamental que a comunicação entre os profissionais e entre estes e os pacientes aumente, criando a possibilidade de uma melhor compreensão das demandas. Esse olhar trará a definição de condutas, a discussão de estratégias e o estabelecimento do papel de cada um da equipe. Com isso, a equipe se torna mais integrada, horizontal e amparada na perspectiva biopsicossocial.

O processo de reabilitação é muito importante, pois somente assim podemos garantir um atendimento com dimensões mais claras e funcionais aos pacientes com essa necessidade. Buscar integrar as funcionalidades física, sensorial, intelectual, psicológica e social em interação com o contexto do paciente em reabilitação aumentará a autonomia dele e fornecerá as ferramentas necessárias para sua recuperação.

Como profissional da área da saúde, você deve lembrar sempre que todo paciente tem dimensões físicas, emocionais, sociais e espirituais. Portanto, para se conseguir uma atenção integral em saúde, você deve levar em consideração todos esses aspectos. Além disso, é fundamental se integrar à equipe e trazer sempre clareza na comunicação com colegas, para facilitar trocas e evitar conflitos.




Na situação-problema de hoje, pudemos conhecer Maria, uma mulher de 42 anos que vem passando por dificuldades em seu trabalho e problemas de saúde que vem se apresentando fisicamente.

Ao avaliá-la, o médico decide que é necessário adotar uma abordagem interdisciplinar para entender e tratar as preocupações da paciente. Essa interdisciplinaridade ajudará os profissionais de saúde a trabalharem juntos para abordar todos os aspectos da saúde de Maria: físico, mental e social.

Neste caso, podemos realizar intervenções nas seguintes áreas:

  • Avaliação médica: para investigar suas dores físicas. Exames podem ser solicitados para descartar problemas médicos subjacentes. O médico também pode considerar sintomas de estresse e depressão mediante as queixas físicas que Maria vem apresentando.
  • Aconselhamento psicológico: um psicólogo pode conduzir uma avaliação psicológica para entender melhor o estado emocional de Maria, podendo chegar ao diagnóstico de um possível quadro de estresse e falta de habilidades para lidar com conflitos, que podem estar contribuindo para sua depressão e insônia. Sessões de aconselhamento podem ser agendadas para ajudá-la a desenvolver estratégias de enfrentamento e melhorar seu bem-estar emocional.
  • Intervenção social: um assistente social pode se envolver para explorar as questões no trabalho de Maria. Pode ser realizada uma mediação entre Maria e seus colegas para resolver conflitos. Este profissional também pode oferecer orientações sobre como equilibrar trabalho e vida pessoal e conectar Maria a recursos de apoio.
  • Nutrição: para identificar áreas onde a alimentação pode melhorar sua saúde física e mental. Este profissional pode elaborar um plano de dieta equilibrada que incluía alimentos ricos em nutrientes para aumentar sua energia e melhorar seu estado de ânimo.

Assim, com o acompanhamento da equipe interdisciplinar, Maria pode experimentar melhorias significativas em sua saúde física, mental e qualidade de vida. Caso ela aceite essa ajuda, suas dores físicas tendem a diminuir e, consequentemente, ela comece a dormir melhor. Além disso, a tendência é que passe a se sentir mais confiante no trabalho, melhorando suas habilidades de enfrentamento e aprendendo a gerenciar o estresse de maneira eficaz.

Por fim, este estudo de caso destaca como a interdisciplinaridade e a promoção da saúde podem ser aplicadas na prática para tratar pacientes de maneira holística. Ao unir diversas áreas de conhecimento e profissionais de saúde, é possível abordar as necessidades de Maria de forma abrangente, melhorando sua qualidade de vida e bem-estar. A interdisciplinaridade e a promoção da saúde são fundamentais para fornecer um atendimento de saúde eficaz e integrado.


Já aprendemos sobre o trabalho em saúde, a concepção de saúde na atualidade e o profissional desta área frente à saúde enquanto valor coletivo. A partir de agora, apresentaremos os determinantes da saúde e da vulnerabilidade à doença. Você perceberá que esse conteúdo está diretamente relacionado ao modelo biopsicossocial apresentado anteriormente e ao conceito de trabalho em saúde. Veja como sua trajetória de conhecimento integra os diversos temas tratados ao longo da disciplina. Esse recurso é excelente para fortalecer seus conhecimentos.

Para poder compreender na prática como se aplicam esses conceitos, partiremos da seguinte situação: João Silva, 35 anos, é um profissional que trabalha em uma área urbanizada de São Paulo. Ele se apresenta ao consultório médico com queixas de fadiga persistente, insônia e dores musculares. João é solteiro e trabalha como executivo em uma empresa de tecnologia, enfrentando uma rotina intensa e estressante. Os determinantes sociais identificados foram os seguintes:

  • Aspecto social: jornada de trabalho prolongada e estressante; falta de tempo para atividades de lazer; redes sociais limitadas devido à intensa rotina profissional.
  • Aspecto econômico: boa renda, mas alta demanda no trabalho para manter o padrão de vida; pouco acesso a opções de lazer devido à rotina profissional.
  • Aspecto psicológico: estresse relacionado ao ambiente de trabalho; pressão por metas e resultados.

Mediante o contexto apresentado, questiona-se: qual o plano de ação mais indicado para a seguinte situação?

Está preparado para auxiliar João Silva? Então, vamos lá!

Quais são os determinantes em saúde?

Para compreendermos os determinantes da saúde, precisamos retomar alguns pontos, e a definição de saúde é um deles. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é

“o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença” (WHO, 1946, [s. p.]).

De acordo com essa definição, percebemos que não basta não ter doenças para ser saudável, é fundamental estar bem em diversos aspectos da vida.

Por conta dessa definição, podemos pensar em aspectos que podem influenciar diretamente a construção do que pode vir a ser a saúde, tais como:

  • Aspecto biológico: busca compreender como a causa da doença pode decorrer do funcionamento do corpo (da biologia) do indivíduo.
  • Aspecto psicológico: a psicologia busca a melhora da saúde, a prevenção e o tratamento de doenças. Muitas práticas clínicas buscam modificar o ambiente da pessoa e sua resposta a estímulos e a mudança de seus pensamentos, crenças, sentimentos e atitudes em relação à saúde.
  • Aspecto social: investiga como os diferentes fatores sociais, como o status socioeconômico, a cultura e as relações sociais, podem influenciar a saúde.
  • Aspectos biopsicossociais: o conceito de saúde compreende não somente a ausência de doença, mas um estado completo de bem-estar físico, psicológico e social do indivíduo. É uma abordagem mais integral da saúde do indivíduo.

Os aspectos biopsicossociais vão na direção da definição de saúde da OMS. Com isso, podemos compreender que todos esses aspectos são fundamentais para o que entendemos como saúde.

Para identificar os fatores externos que podem influenciar de maneira negativa a qualidade de vida das pessoas, existem os determinantes de saúde, que também auxiliarão na criação de medidas globais para a redução da desigualdade.

Como podemos deduzir, determinante é tudo aquilo que determinará, decidirá, gerará algo. Portanto, determinantes em saúde são os fatores que definirão nossa saúde individual e coletiva. Parece simples, não? Na raiz do significado, sim, mas perceberemos, nesta aula, que há fatores bastante complexos nesse cenário.

Quais determinantes são centrais na saúde no contexto atual? Segundo a Lei Orgânica da Saúde, os fatores determinantes e condicionantes da saúde são: alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer e acesso aos bens e serviços essenciais para a saúde (Brasil, 2011). Nesse contexto, os determinantes da saúde podem ser definidos como os fatores que influenciam, afetam e/ou determinam a saúde de todos os povos e cidadãos (Carvalho, 2012).

Portanto, podemos compreender que o equilíbrio entre saúde e doença pode ser determinado por uma grande variabilidade e combinação de fatores de origem social, econômica, cultural, ambiental e biológica (genética), que é exatamente a definição de aspectos biopsicossociais.

Como os determinantes em saúde podem influenciar nosso trabalho?

Para compreendermos melhor os determinantes de saúde, usaremos a referência da Organização Mundial de Saúde (OMS), que classifica determinantes sociais em saúde como as condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem, incluindo aí o próprio acesso aos serviços de saúde.

São determinantes sociais porque são compreendidos de forma coletiva e no macro contexto socioeconômico. Com isso, as circunstâncias citadas são moduladas também pela distribuição de renda, poder e recursos em nível global, nacional e local, questões influenciadas por decisões políticas e geopolíticas. Esses determinantes sociais seriam os responsáveis pelas diferenças injustas e evitáveis entre pessoas e países.

Como um dos focos da OMS é justamente a descentralização dos poderes, em 2006, no Brasil, foi criada a Comissão Nacional de Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS). A CNDSS reafirma que os determinantes sociais são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população (Buss; Pellegrini Filho, 2007).

Tal comissão tem três compromissos (CNDSS, 2006):

  1. Ação: apresentar recomendações concretas de políticas, programas e intervenções para o combate às injustiças (iniquidades) de saúde geradas pelos Determinantes Sociais da Saúde (DSS).
  2. Equidade: a promoção da equidade (respeito à igualdade de direitos) em saúde é fundamentalmente um compromisso ético e uma posição política, com a finalidade de assegurar o direito universal à saúde.
  3. Evidência: recomendações devem estar solidamente fundamentadas em evidências científicas, que permitem, por um lado, entender como operam os determinantes sociais na geração das iniquidades em saúde e, por outro, como e onde devem incidir as intervenções para combatê-las e que resultados podem ser esperados em termos de efetividade e eficiência.

Os principais objetivos da CNDSS (2006) são:

  • Produzir conhecimentos e informações sobre os DSS no Brasil.
  • Apoiar o desenvolvimento de políticas e programas para a promoção da equidade em saúde.
  • Promover atividades de mobilização da sociedade civil para tomada de consciência e atuação sobre os DSS.

Entendendo a saúde como um processo social, os aspectos socioeconômicos e as decisões políticas interferem diretamente nas condições de vida e na saúde das populações.

Você percebe que estar doente ou saudável dependerá diretamente de como é a sua rotina, das suas relações afetivas e sexuais, do estado da sua saúde mental, das atividades do trabalho que você faz, onde e como você mora, que tipo de lazer você tem, como está a sua alimentação, entre outros fatores. Portanto, todos os aspectos que circundam a vida de cada indivíduo e o estilo de vida de cada um.

Para compreender isso, podemos utilizar a imagem de Dahlgren e Whitehead (1991), que demonstra a estratificação dos determinantes em saúde frente ao contexto socioambiental em relação ao estilo de vida dos indivíduos, ou seja, todos os fatores que podem perpassar as nossas vidas e com isso influenciar em aspectos de nossa saúde de forma direta e indireta.


Figura 1 | Determinantes sociais de saúde, segundo modelo de Dahlgren e Whitehead (1991). Fonte: Brasil (2008, p. 47).

O Brasil é um país muito grande e desigual. Por conta disso, precisamos entendê-lo em seus diversos contextos e realidades. Mesmo dentro de uma única cidade, como São Paulo, você encontra variáveis e vulnerabilidades muito distintas nos diferentes territórios.

Em áreas muito urbanizadas, onde o transporte é um problema, você pode enfrentar um estilo de vida intenso e estressante, sem tempo para se alimentar ou fazer atividade física de forma regular. Além disso, estresse e saúde mental podem estar em jogo em função do acúmulo de trabalho. Com isso, podemos imaginar que, ao adoecer, as pessoas desses lugares poderão enfrentar problemas com mais frequência, como câncer, obesidade, problemas cardíacos, diabetes, depressão, ansiedade etc.

Já nas regiões mais vulneráveis do Brasil, onde não há saneamento básico, moradia apropriada, oferta de emprego e acesso adequado à saúde, as pessoas podem ter mais riscos de enfrentar questões, como gastroenterites, malária, dengue, leishmaniose, Doença de Chagas etc.

São tantos cenários e contextos diferentes em um único país, estado e cidade, não é mesmo? Assim, os determinantes sociais da saúde podem ajudar na identificação de quais fatores externos podem influenciar de maneira negativa a qualidade de vida e a saúde das pessoas. Com isso, eles ajudam na criação de medidas globais (políticas públicas) para redução das desigualdades, prevenção e promoção de saúde de forma coletiva.

 Siga em Frente...

Como podemos trabalhar olhando os determinantes em saúde?

Os determinantes de saúde são todos os fatores que interferirão na vida das pessoas, seja individual ou coletivamente, dando a elas qualidade de vida (saúde) ou contribuindo para o aparecimento de doenças. Por isso, eles são fundamentais para quem trabalha com saúde. Mas, como os profissionais de saúde podem analisar e elaborar planos de ação que garantam a prevenção e A promoção de saúde de forma mais igualitária, olhando sempre para o coletivo?

Sabemos que o modelo biopsicossocial fornece a abordagem mais completa para se observar o indivíduo e suas condições de vida. Esse é o modelo que deve ser incorporado à formação dos profissionais de saúde de forma geral, porque, além do aprendizado e da evolução das habilidades técnico-instrumentais, é essencial que ele entenda aspectos sociais e desenvolva capacidades relacionais, que permitam o estabelecimento de um vínculo adequado e uma comunicação efetiva. Isso tudo favorece um cuidado integrado dos indivíduos dentro do contexto coletivo.

O modelo biopsicossocial trabalha na perspectiva de que o funcionamento do corpo (bio) pode afetar a mente (psico) e que, por sua vez, a saúde mental também pode afetar o corpo. Além disso, as questões ambientais (sociais) estão permeando o tempo todo o estilo de vida das pessoas, afetando seu corpo, sua mente e sua saúde.

O modelo biopsicossocial dá mais autonomia ao paciente em relação ao seu próprio cuidado. Por conta disso, ele é a perspectiva mais abrangente para entender o ser humano, já que compreende a saúde e a doença como resultado das interações entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. Esse modelo também expressa a coerência entre corpo e mente como fundamental para a constituição do equilíbrio humano.

Tudo isso leva a uma busca do profissional da saúde por uma melhora na qualidade de vida das pessoas, calcada em uma prática clínica multiprofissional, que visa à promoção da saúde, à autonomia do indivíduo e à adoção de hábitos de vida saudáveis, com consequente redução do adoecimento. Para isso, precisamos compreender o que é qualidade de vida. Tanto o paciente quanto os profissionais de saúde precisam conhecer os principais pontos:

  • O bem-estar físico.
  • O bem-estar mental.
  • O bem-estar psicológico.
  • O bem-estar emocional.
  • Relacionamentos afetivos.
  • Relacionamentos com a família.
  • Relacionamentos com os amigos e colegas.
  • A saúde.

É fundamental entender que pacientes em processo de adoecimento ou de prevenção de adoecimento são diferentes de pacientes crônicos. O olhar biopsicossocial deve estar presente sempre, a fim de criar um espaço de atendimento empático, no qual a relação com o profissional de saúde possa acontecer da melhor forma possível.

Um profissional empático faz com que o paciente se sinta mais à vontade para falar sobre suas principais dores, angústias e aflições, o que contribui para um importante efeito terapêutico, além de torná-lo mais colaborativo e satisfeito com todo o processo de atendimento.

 Vamos Exercitar?

João Silva é um rapaz de 35 anos, solteiro, que trabalha como executivo em uma empresa de tecnologia em uma rotina intensa e estressante em uma área urbanizada de São Paulo. Ele apresenta queixas de fadiga persistente, insônia e dores musculares, assim como questões relacionadas aos aspectos sociais, econômicos e psicológicos.

Para auxiliar João neste caso, começamos considerando os determinantes sociais identificados e pensando em uma abordagem biopsicossocial para compreender a situação dele. O plano de ação pode incluir ações, como:

  • Avaliação médica: investigação dos sintomas físicos e prescrição de tratamento para alívio das dores musculares e avaliação do sono e sugestões para melhorar a qualidade do descanso.
  • Apoio psicológico: encaminhamento para sessões de aconselhamento para lidar com o estresse e a pressão no trabalho.
  • Intervenções sociais: exploração de estratégias para equilibrar a vida profissional e pessoal e incentivo à busca de atividades de lazer para promover o bem-estar.
  • Educação em saúde: informação sobre a importância do equilíbrio entre trabalho e lazer e orientar sobre a adoção de hábitos saudáveis, incluindo atividade física regular e alimentação equilibrada.
  • Integração de serviços: colaboração com profissionais de saúde mental para fornecer apoio abrangente.

Acompanhamento: João é acompanhado regularmente pela equipe de saúde. A ênfase está na promoção de mudanças sustentáveis em seu estilo de vida, visando não apenas à resolução dos sintomas imediatos, mas também à melhoria contínua de sua qualidade de vida.

Resultados esperados: espera-se que, ao longo do acompanhamento, João experimente uma redução no estresse, melhoria na qualidade do sono e aumento da satisfação com sua vida. A abordagem biopsicossocial visa não apenas tratar os sintomas físicos, mas também promover a saúde mental e emocional, considerando os determinantes sociais presentes em sua rotina intensa e estressante. O objetivo é capacitar João a adotar um estilo de vida mais equilibrado e saudável.












À partir de agora, conversaremos sobre identidade e trabalho. Para tanto, continuaremos a focar nos aspectos biopsicossociais que envolvem o relacionamento terapeuta/paciente. Falaremos também da função do trabalho e da relação entre trabalho, qualificação e reconhecimento no âmbito da saúde. Além disso, entenderemos como as relações entre o trabalho e a autoconstrução podem auxiliar no processo da clínica de saúde e qual a necessidade da autoconstrução sob o ponto vista de suas subjetividades dentro da perspectiva da clínica do trabalho.

Um fator importante nesse tópico, sem dúvida, é a questão da subjetividade e as correlações entre trabalho, saúde e identidade. Para poder embasar nossos estudos, pensaremos na seguinte situação: Maria é uma enfermeira que atua em um hospital público de médio porte. Ela está na profissão há cinco anos e sempre teve uma relação intensa com o trabalho em saúde, buscando constantemente aprimorar suas habilidades e oferecer um cuidado de qualidade aos pacientes. Recentemente, o hospital passou por mudanças estruturais, incluindo cortes de pessoal e redução de recursos, o que afetou diretamente a carga de trabalho e as condições de atendimento.

Maria sempre teve uma forte identificação com sua profissão e encarava o trabalho em saúde como uma fonte de realização pessoal. Ela via seu papel como enfermeira não apenas como uma obrigação profissional, mas como parte integrante de sua identidade. Contudo, as mudanças no hospital começaram a impactar seu equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

A sobrecarga de trabalho aumentou, os recursos disponíveis tornaram-se escassos e as condições do ambiente de trabalho deterioraram-se. Maria, apesar de seu comprometimento profissional, começou a sentir os efeitos negativos dessas mudanças em sua saúde mental e física. A sensação de impotência diante das condições adversas afetou sua autoestima e satisfação no trabalho.

Ela percebeu que a falta de reconhecimento e valorização por parte da gestão e a ausência de incentivo à qualificação estavam minando sua motivação e capacidade de oferecer um atendimento de qualidade. Além disso, a instabilidade profissional e a falta de respeito no ambiente de trabalho contribuíram para um cenário desafiador.

E agora, vamos ajudar Maria?

Como compreendemos a identidade de trabalho?

Para abordarmos a questão da identidade e do trabalho, precisamos compreender que identidade tem a ver com a forma que nos enxergamos no mundo, nos identificamos. No modo literal, seria um documento (RG, certidão etc.); no modo subjetivo, é o que nos representa (masculino, feminino, profissional de saúde, filho, pai etc.).

Identidade é o que nos move e nos diferencia em relação aos outros, o que nos faz criar conexões com determinadas coisas em detrimento de outras.

A identidade que estamos pensando aqui nessa aula é a subjetiva, a sua identidade/identificação em relação ao trabalho em saúde e o que isso pode gerar como resultado.

Precisamos pontuar que pensamos em saúde sob o ponto de vista biopsicossocial, tanto naquilo que envolve o relacionamento terapeuta/paciente como também em relação ao próprio profissional de saúde.

A partir desse olhar amplo e contextualizado dos indivíduos, falaremos da função do trabalho e da relação entre trabalho, qualificação e reconhecimento, sempre no âmbito da saúde.

Você consegue compreender qual a função do trabalho em sua vida?

Essa resposta pode ser muito pessoal e estar atravessada por questões subjetivas dentro do seu contexto sociocultural, não é mesmo? Todavia, se pensarmos de forma mais generalista, podemos alcançar uma explicação mais ampla do que é a função do trabalho. Dessa forma, o trabalho pode ser entendido como uma condição essencial na sociedade em que vivemos, não apenas pela questão financeira (individual e social), mas também pelo significado e sentido que a vida ganha a partir desse aspecto. Logo, entendemos que o trabalho é uma parte integrante e importante de nossas vidas.

A função do trabalho vai muito além de ganhar nosso dinheiro para viver e sobreviver, tem a ver com nossa realização pessoal, o sentido de ser útil de alguma forma na vida pessoal, familiar e social. Assim, o trabalho tem para o indivíduo um significado de representatividade social por meio daquilo que ele realiza, como uma forma de reconhecimento dessas atividades para atingir seus objetivos. O sentido é apresentado em forma de valor pessoal, satisfação e autorrealização para cada um (Neves et al., 2018).

Pensando nisso, como poderíamos reconhecer no ambiente de saúde essa função do trabalho? Você consegue se imaginar nesse contexto?

É importante pensar na saúde como qualquer outro ambiente de trabalho, com responsabilidades e funções específicas. Porém, trabalhar em um ambiente de saúde é, muitas vezes, enfrentar uma condição insalubre, por questões como carga horária, estruturas precárias, sensação de impotência frente a dores e perdas etc.

Por conta dessas peculiaridades, nossos cuidados como profissionais de saúde precisam ser sempre constantes, buscando suporte, amparo técnico, qualificação, reciclagens e feedbacks sobre nossa atuação, e isso inclui, claro, a busca de reconhecimento pela dedicação e pelo desempenho adequado das nossas funções.

Mas, aí você pode parar para pensar e perguntar: isso é automático? Claro que não! No entanto, você já pode estar imaginando que isso tenha ligação com as relações de trabalho e a autoconstrução.

As relações de trabalho referem-se a todas as relações que ocorrem no ambiente de trabalho, sejam elas com colegas, chefes, clientes, pacientes, fornecedores etc.

Já a autoconstrução no ambiente de trabalho em saúde se referirá ao aperfeiçoamento e à capacidade do próprio profissional de compreender como ele pode se modificar para melhorar habilidades e, com isso, ficar mais habilitado ao trabalho. E esse processo pessoal pode contribuir para o desenvolvimento dos demais profissionais e da própria instituição de saúde.

Como essa autoconstrução e as relações do trabalho funcionarão?

Para responder, precisamos pensar nas questões de subjetividade que atravessam qualquer relação humana e em como ficam as correlações entre trabalho, saúde e identidade.

Lembrando que a subjetividade pode ser definida como a expressão de pontos de vista e julgamentos de valor da própria pessoa, seus sentimentos e suas preferências (Subjetividade, 2022), ou seja, são as individualidades de cada um e o contexto em que essa pessoa se constrói.

Como será que tudo isso acontecerá no ambiente de trabalho em saúde?

Identidade de trabalho: aprofundando conceitos

Para compreendermos melhor o que significa o processo de identidade e trabalho, aprofundaremos alguns conceitos.

Pensando na função do trabalho como algo que vai além da sobrevivência financeira, chegamos à questão da satisfação pessoal. Já sabemos que, quando um profissional está satisfeito, ele tende a produzir mais e com maior qualidade, além de se sentir pertencente ao ambiente de trabalho e mais integrado às relações com os colegas. E isso tudo é muito importante para validar a sua identidade no trabalho.

Partindo desse ponto de vista, podemos entender a correlação entre trabalho, qualificação e reconhecimento como um evento circular e interdependente.


Figura 1 | Ciclo Trabalho – Qualificação – Reconhecimento


Entenderemos melhor: todo trabalho exige algum grau de qualificação e de reconhecimento para validação. Quanto mais qualificação, maior chance de reconhecimento e, como consequência, mais disposição para realizar o trabalho. Esse movimento pode gerar maior empenho e vontade para aprender mais. É um fluxo circular, mantido de forma individual e que fará toda diferença no coletivo.

Porém, sabemos que o ambiente de trabalho pode ser influenciado por fatores negativos que atrapalham a manutenção desse ciclo (Figura 1) de trabalho, qualificação e reconhecimento. Quando o trabalhador enfrenta, por exemplo, um ambiente com condições insalubres (falta de material e de equipamentos de segurança; infraestrutura inadequada; relações interpessoais conflituosas; falta de valorização e reconhecimento etc.), sua qualidade de vida e sua saúde física e mental podem ser comprometidas (Abramo, 2019).

Por outro lado, temos características positivas no trabalho (segurança financeira; oportunidade de crescimento pessoal; relações sociais construtivas; autoestima), as quais podem propiciar a manutenção desse ciclo (Figura 1), protegendo o trabalhador de riscos ambientais e psicossociais, melhorando a saúde e a qualidade de vida (Abramo, 2019). Com isso, o trabalho passa a ser fonte de bem-estar e autorrealização, gerando sensação de prazer, fator fundamental para a construção da subjetividade do trabalhador nesse ciclo (Figura 1) (Neves et al., 2018).

Em resumo, podemos compreender que é necessário um equilíbrio entre as características positivas e negativas no trabalho, a fim de manter a qualidade de vida no trabalho em saúde.

Essa realização pessoal vai na direção do processo de autoconstrução, pois um profissional motivado busca aprimorar o ambiente em que está inserido, melhorando todo o contexto da clínica de saúde.

O mundo do trabalho em saúde é repleto de novas tecnologias, o que exige a necessidade de aprimoramento constante por parte de seus profissionais, com a finalidade de melhorar o desempenho das atividades assistenciais, organizacionais e administrativas na gestão em saúde e no processo de pesquisa e formação profissional (Bonfada; Pinno; Camponogara, 2018).

Na busca de equilíbrio pessoal e aprimoramento, precisamos pensar na subjetividade do trabalhador de saúde por meio da relação entre trabalho, saúde e identidade.

Isso nos remete à necessidade de que o indivíduo consiga se reconhecer e se validar profissionalmente, passo fundamental para toda sua carreira. Após esse autorreconhecimento, é importante que seu esforço e sua dedicação sejam reconhecidos por terceiros, o que gerará um sentimento de bem-estar e respeito por seu trabalho. Portanto, para obter o reconhecimento profissional, é necessário que o trabalhador se reconheça e se aproprie de seus dons, talentos e competências, esforçando-se para alcançar resultados e conquistar sua autoconfiança. E a validação externa desse processo também é essencial para que o indivíduo siga em frente, crescendo e aprimorando-se ainda mais. Um ciclo virtuoso!

Em suma, entendemos que o reconhecimento e a valorização dos trabalhadores em saúde contribuem para o sucesso da organização e para sua satisfação profissional. E tal fato só ocorrerá em instituições de saúde que tenham a qualidade de vida de seus colaboradores como meta, bem como a qualidade do serviço prestado (assistência), pois compreendemos que o que move o indivíduo e o seu comportamento no trabalho está relacionado com a compreensão, a valorização e o reconhecimento desse trabalhador (Gomes, 2019).

Como construir a identidade no trabalho?

Você pode estar se perguntando: como conseguimos construir essa identidade com o trabalho? Por meio do que vimos até o momento, temos como necessidade para nossa identificação com o trabalho:

  • Qualificação.
  • Autoconstrução.
  • Subjetividade/Identidade.
  • Qualidade.
  • Reconhecimento.
  • Valorização.

A construção da nossa identidade no trabalho está ligada diretamente com a forma como nos vemos frente ao trabalho que desempenhamos e como nos avaliamos por meio de reconhecimento e feedbacks.

Podemos compreender que essa identidade é atravessada por questões de insalubridade específicas do trabalho em saúde. No entanto, mesmo em um cenário com fatores negativos, podemos agregar posturas, atitudes e sensações que nos permitem realizar o melhor trabalho possível no aspecto individual, coletivo e de assistência.

A questão mais importante é sabermos reconhecer quais são as nossas habilidades e inabilidades frente ao nosso trabalho. Esse é o ponto fundamental! E, a partir dessas constatações, buscar possibilidades de crescimento e de aprimoramento.

No entanto, não conseguimos isso sozinhos, precisamos ter consciência de que nosso trabalho interfere no do outro, o do outro interfere em nós, e o todo só acontece por conta da subjetividade de cada indivíduo e da soma dessas subjetividades na equipe. O resultado pode ser uma equipe integrada, que valoriza as diferenças de ponto de vista como potência, e com isso consegue oferecer melhores resultados na assistência ao paciente.

O profissional de saúde, assim como qualquer outro, precisa se sentir qualificado para exercer sua função com qualidade e eficiência e precisa de autoconsciência de suas questões emocionais, cognitivas e relacionais.

Por conta disso, devemos pensar em como a educação permanente em saúde pode nos amparar, com base científica e atualizada. Ela deve ser uma realidade na vida de profissionais de saúde, já que nosso trabalho não é estático. Ele muda a cada nova descoberta, e precisamos e devemos nos atualizar com frequência.

O processo de aprendizagem e a troca com colegas podem nos fazer ampliar nossa visão e valorização, para que possamos garantir, além da qualificação profissional, a competência de nos autoconstruir, por meio do ciclo qualificação > reconhecimento > trabalho. E isso pode gerar melhores resultados na própria equipe e na assistência aos pacientes, o que também nos ajuda a construir e reforçar nossa identidade de trabalho.

Agora, você saberia dizer como podemos lidar melhor com a identidade do nosso trabalho em saúde na relação com a assistência (pacientes)?

Sabemos que, para o trabalho em saúde, precisamos estar saudáveis e por inteiro, não é mesmo? Somente assim conseguimos ser empáticos, propiciando resultado favorável tanto na relação da assistência individual como na coletiva.

Para facilitar, levantaremos alguns pontos que podem nos ajudar:

  • Qualificação profissional.
  • Comprometimento profissional.
  • Planejamento do trabalho desenvolvido.
  • Capacidade de resolução de conflitos.
  • Capacidade empática.
  • Relacionamento interpessoal.
  • Reconhecimento da gestão.
  • Reconhecimento de colegas.
  • Reconhecimento de pacientes.
  • Incentivo.

Precisamos prestar atenção em pontos que podem nos atrapalhar:

  • Sobrecarga de trabalho.
  • Falta de condições de trabalho.
  • Instabilidade profissional.
  • Falta de incentivo à qualificação.
  • Invisibilidade.
  • Falta de respeito.
  • Autonomia reduzida.

É necessário adotar medidas que minimizem os fatores que interferem negativamente na qualidade do desenvolvimento dos trabalhadores em saúde, assim como é central implementar ações que possam fortalecer e promover os fatores positivos para uma vida de trabalho e pessoal saudável, feliz e com maior qualidade. Somente quando o profissional de saúde se valoriza e acredita em sua potência, ele consegue fazer trocas verdadeiras e gerar resultado benéfico no processo da saúde como um todo.

Vamos Exercitar?

Maria, uma enfermeira com cinco anos de experiência em um hospital público, sempre teve uma forte identificação com sua profissão, buscando constantemente aprimorar suas habilidades. Mudanças recentes no hospital, como cortes de pessoal e redução de recursos, impactaram diretamente sua carga de trabalho e condições de atendimento. A sobrecarga, a escassez de recursos e as condições adversas deterioraram seu equilíbrio entre vida profissional e pessoal, afetando sua saúde mental e física. A falta de reconhecimento, valorização, incentivo à qualificação e respeito no ambiente de trabalho minaram sua motivação e sua capacidade de oferecer atendimento de qualidade, resultando em um cenário desafiador. E agora, como podemos auxiliar Maria?

Diante desse contexto, Maria precisa buscar formas de reconstruir sua identidade no trabalho em saúde. Seria interessante ela começar a participar de programas de educação permanente oferecidos pela instituição, visando aprimorar suas habilidades e seus conhecimentos, além de conseguir apoio emocional e troca de experiências com colegas, fortalecendo, assim, seu relacionamento interpessoal e a capacidade empática.

Outro ponto destacado é que Maria, junto a outros profissionais de saúde, deve dialogar com a gestão, expressando as dificuldades enfrentadas e propondo soluções para melhorar as condições de trabalho. Ela também pode participar ativamente de ações que visam ao reconhecimento dos profissionais, tanto por parte da administração como dos próprios colegas e pacientes. Com isso, pode implementar estratégias de autocuidado, estabelecer limites para a sobrecarga de trabalho e buscar criar um planejamento mais eficiente para suas atividades profissionais. Assim, entenderá que, ao cuidar de sua própria saúde e bem-estar, conseguirá oferecer um cuidado mais compassivo e eficaz aos pacientes.

Com o tempo, as ações empreendidas por Maria e seus colegas começarão a gerar impactos positivos. Além disso, ao investir em sua qualificação e buscar reconhecimento, Maria perceberá uma melhoria significativa em sua satisfação profissional. O ciclo de qualificação, reconhecimento e trabalho começará a fluir de maneira mais equilibrada, contribuindo para uma identidade no trabalho mais fortalecida e resiliente.


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Hoje, falaremos sobre a relação do profissional de saúde com os pacientes, tópico central para entendermos como podemos garantir que os pacientes tenham melhor aderência ao tratamento. Além disso, abordaremos as influências dos aspectos emocionais no campo da saúde e o que podemos fazer para garantir um melhor atendimento.

Nessa aula, teremos também um tema muito importante para focar, que é a relação do paciente e sua família com o profissional da saúde. Compreenderemos como essa relação pode impactar diretamente no comportamento do paciente frente ao tratamento proposto.

Ficou interessado? Vamos juntos construir esse conhecimento? Para tanto, pensaremos na seguinte situação: Beatriz Santos, uma mulher ativa de 45 anos, foi diagnosticada com diabetes tipo 2 durante uma consulta de rotina com seu médico de família. O profissional de saúde que a acompanha, Dr. Marcos Oliveira, encaminhou Beatriz para uma consulta com um endocrinologista para um tratamento mais especializado. Dr. Marcos Oliveira é conhecido por sua abordagem humanizada e pela importância que atribui à relação médico-paciente. Ao receber Beatriz em sua clínica, ele reconhece a necessidade de estabelecer uma boa relação desde o início. Sendo assim, como estabelecer uma relação profissional com a paciente? Quais os desafios em relação ao tratamento? Além disso, qual a necessidade de se manter um bom relacionamento com a família de Beatriz?

Então, está preparado para ajudar Beatriz e Dr. Marcos neste processo?

Relação profissional de saúde e paciente, o que é isso?

Para compreendermos melhor a relação do profissional de saúde com o paciente, precisamos relembrar alguns conceitos.

A definição de relação tem a ver com vínculo afetivo, e não seria diferente na relação de trabalho na saúde. O afeto no atendimento do paciente é fundamental para um melhor resultado (Relação, 2022).

É importante saber que, quando tratamos de relações humanas em saúde, estamos pensando em como investir na qualidade da relação do profissional com seus pacientes e em como evitar a desumanização nesse processo. A desumanização da relação pode acontecer por conta do formalismo dos protocolos de atendimento e de coleta de dados, e é preciso lembrar que o ser humano não pode ser reduzido a esquemas simples e mecanicistas.

As relações humanas são os objetos de estudo da psicologia. E se você se lembra, elas podem ser divididas em dois tipos: relação intrapessoal e relação interpessoal.

Enquanto a relação intrapessoal refere-se à comunicação interna do indivíduo, a relação interpessoal refere-se à maneira como nos relacionamos com o próximo.

Na área da saúde, as relações que vêm da interação entre os pacientes e os profissionais de saúde se desenvolverão a partir de um referencial biopsicossocial. O equilíbrio dessas relações pode se dar por meio da escuta do profissional e da participação e autonomia do paciente frente às decisões sobre sua saúde.

Fica evidente aqui a necessidade de uma comunicação clara com o paciente, sendo a comunicação um processo complexo de manifestações verbais e não verbais, reações emocionais, físicas e comportamentais. Logo, a boa relação profissional de saúde e paciente deve estar baseada na escuta desse paciente, com olhar empático e qualidade técnica (Backes, 2005). Esse olhar gerará mais trocas com o paciente, e maior chance de ele aderir ao tratamento.

Você sabe o que é aderir ao tratamento? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), adesão ao tratamento significa

A adesão ao tratamento tem, conforme a definição da OMS, uma relação direta com as recomendações do profissional de saúde. Assim, quanto melhor forem as relações e a comunicação do paciente com o profissional, maiores as chances de ele seguir as recomendações e não abandonar o tratamento proposto no meio do caminho.

Temos que lembrar que o tratamento não se resume a ir aos serviços de saúde e se consultar com os profissionais. O tratamento envolve comportamentos diversos, como uso correto de medicações e modificações de hábitos e comportamentos. E sabemos bem que as pessoas só mudam quando estão motivadas e quando aquilo que é proposto faz sentido para elas. Imagine como é difícil mudar de maneira radical a forma como você se alimenta ou ter que tomar remédio o resto da vida se você não entende claramente a importância de tudo isso na busca pela sua saúde. Nesse sentido, a relação com os profissionais e o protagonismo do paciente são passos fundamentais.

Sem contar que receber uma notícia complicada em relação à saúde ou mudar um hábito arraigado no comportamento (deixar de fumar, por exemplo) envolve não apenas o paciente com quem falamos, mas também as pessoas que vivem ao seu redor. Portanto, as relações em saúde se estendem para outros elementos, seja a família de origem, a família que a pessoa formou ou a família escolhida (amigos).

Como a relação com o profissional de saúde pode afetar a adesão?

Agora, na prática, como a relação com o profissional de saúde pode afetar a adesão?

Se temos uma relação saudável e afetiva, com uma comunicação boa, o que propomos poderá ser mais bem compreendido e absorvido. No sentido contrário, se investirmos em uma relação assimétrica, na qual o profissional se coloca sempre acima do paciente, a pessoa poderá criar resistências e se comportar como um filho que insiste em desobedecer à figura do pai ou da mãe. Também não funciona se o profissional da saúde se coloca de maneira submissa às vontades do paciente, já que há o risco de se perder credibilidade e autoridade técnica. Por isso, o equilíbrio, a boa relação e a comunicação direta são essenciais.

Por conta desse tipo de resposta nas relações profissionais-pacientes, estudamos termos como transferência e contratransferência. Eles são baseados na mesma ideia, sendo que transferência acontece no sentido do usuário para com o profissional, e a contratransferência se dá no sentido inverso.

Mas, o que isso significa? De um jeito simplificado, a transferência acontece quando atribuímos questões de outras relações, passadas, para as novas relações (Freud, 1980), ou seja, quando trazemos para uma relação nova questões e atitudes que vivenciamos em outras relações, muitas vezes sem nos darmos conta. Por exemplo, tive problemas com um pai autoritário e sigo tendo dificuldade de receber ordens e orientações. Nesse caso, posso "boicotar" um tratamento por achar que o profissional da saúde só manda e não me escuta.

Já a contratransferência acontece quando o profissional de saúde é impactado pelas emoções e sensações que tem ao escutar o paciente e acaba adotando posturas que podem dificultar a relação (Freud, 1980).

Nós, como profissionais de saúde, temos que estar atentos a esses fenômenos e dar um passo para trás para entender o que está acontecendo, seja na transferência ou na contratransferência. Afinal, temos que tomar cuidado com diversos elementos que podem atrapalhar a forma como as relações se estabelecem.

De maneira geral, os usuários dos sistemas de saúde podem estar enfrentando momentos de fragilidade e vulnerabilidade (afinal de contas, quem é que não fica assim quando está doente?), e isso pode impactar suas relações. Em um pronto-socorro, por exemplo, a relação ocorrerá mediada pelo medo de uma condição que pode estar colocando a vida do indivíduo em risco, enquanto em programas relacionados à promoção de saúde o contato já ocorre a partir de um desejo de estar lá e melhorar, com mais tempo para construir uma boa relação (Assunção; Queiroz, 2015).

Além disso, tradicionalmente na área de saúde, temos relações bastante paternalistas, em que o profissional (detentor do conhecimento técnico) manda, e ele espera que o paciente (que busca ajuda) obedeça. Modernamente, sabemos que isso não funciona tão bem como um cuidado em que o paciente também é protagonista e divide as tomadas de decisão junto àqueles que o assessoram, respeitando os saberes e papéis de cada um. Afinal de contas, assim como não tem sentido eu ter que tomar um remédio sem entender o motivo, não adianta eu querer pedir para ser afastado do trabalho se não há justificativa da área de saúde para isso. Comunicação, afeto e respeito fazem toda a diferença nessa relação. Isso lembra muito o que falamos sobre trabalhos em equipe em aulas anteriores.

Essas preocupações valem também para casos de irritação e agressividade nos atendimentos. Eles podem ser motivados por problemas concretos da relação profissional-paciente, ou, muitas vezes, podem ser apenas um padrão de repetição de problemas que vêm de relações passadas ou de adoecimentos anteriores em saúde mental, que tanto o paciente como o profissional podem apresentar.

E lembrar do cuidado de nunca reduzir as pessoas a um diagnóstico, já que isso pode fazer com que elas se sintam desrespeitadas, o que pode complicar a adesão e o protagonismo no seu tratamento.

Como relacionar o paciente, a família e o profissional da saúde?

Já aprendemos sobre como a relação entre o usuário do sistema de saúde e o profissional de saúde tem um papel central não apenas na avaliação subjetiva do serviço, mas, principalmente, na adesão ao tratamento. A compreensão de como essas relações se organizam e como podem ser usadas de maneira a contribuir para o cuidado é um conhecimento fundamental para quem trabalha com saúde.

Agora, podemos pensar em como você, futuro profissional de saúde, agirá diante dessa realidade. Sabemos que, quanto mais entendermos a intencionalidade dos nossos atos, melhor podemos nos organizar.

Você, provavelmente, já teve suas experiências procurando serviços ou profissionais de saúde, seja como paciente ou como familiar ou acompanhante. Você deve ter algumas boas lembranças e recordar momentos complicados, certo? O que ocorreu bem ou o que ocorreu mal?

Em geral, as boas recordações têm a ver com o desfecho, com o resultado. Mas, se olharmos de perto, em geral, aquelas experiências que são lembradas como as melhores são aquelas em que fomos acolhidos, respeitados, percebidos, tratados com autonomia e dignidade e a comunicação ocorreu de maneira positiva. Assim, mesmo que o resultado não fosse o que queríamos, nos sentimos cuidados. Para algumas pessoas, mesmo o momento da perda de uma pessoa amada pode ser lembrado como uma experiência positiva, se ocorreu uma relação humanizada com os profissionais de saúde.

Ninguém quer ir ao médico para não ser escutado e apenas levar uma receita para casa. No entanto, infelizmente, isso é o que acontece ainda hoje em muitas situações nos serviços de saúde. Ninguém quer ir a nutricionistas que apenas passam a mesma alimentação para todos os pacientes; psicólogos que não nos enxergam em nosso sofrimento e apenas ficam presos na sua teoria; fisioterapeutas que não pensam em ter um consultório acessível; enfermeiros que ficam presos nos afazeres e esquecem do paciente e de quem o acompanha (Assunção; Queiroz, 2015).

Temos que levar em conta que nem sempre o que achamos que funcionará para determinado paciente é, de fato, o melhor caminho ou estratégia de atendimento. Às vezes, estamos repetindo uma fórmula que não dá certo ou tentando pegar um atalho que não resolverá o problema. Temos que entender a individualidade de cada um dos pacientes para tentar chegar ao melhor resultado de adesão para cada um, mesmo que esse trajeto possa parecer mais longo. Não adianta brigar e impor condutas, ouvir e ser empático pode ser muito mais produtivo.

E qual tipo de profissional você quer ser? Como quer se relacionar com seus pacientes?

Muitas vezes, precisamos respirar fundo e dar um passo atrás para não responder de forma automática a uma reação ou resposta do paciente com a qual não concorda. "Eu já prescrevi o tratamento correto e você não seguiu, agora volta aqui pior e vem perguntar o que deve fazer?”. Há profissionais que respondem agressão com agressão e falta de adesão com abandono do paciente. Mas, será que essas são as melhores respostas? Não é melhor entendermos o cenário como um todo e tentar ajudar de outra forma, buscando sempre essa aliança com o paciente?  E aqui cabe lembrar que essa aliança pode ser ainda mais fortalecida e ampliada quando temos o suporte das pessoas que vivem próximas a esse paciente, não é mesmo?

Poder ter essa atitude é essencial para cuidar da melhor forma possível do usuário dos sistemas de saúde e para podermos crescer enquanto pessoas dentro e fora da vida profissional.


Vamos Exercitar?

Beatriz, uma mulher ativa de 45 anos, foi diagnosticada com diabetes tipo 2 durante uma consulta de rotina com seu médico de família. O profissional de saúde que a acompanha, Dr. Marcos Oliveira, encaminhou Beatriz para uma consulta com um endocrinologista para um tratamento mais especializado. Questiona-se: como estabelecer uma relação profissional com a paciente? Quais os desafios em relação ao tratamento? Além disso, qual a necessidade de se manter um bom relacionamento com a família de Beatriz?

Durante a consulta inicial, Dr. Marcos Oliveira aborda não apenas os aspectos clínicos da diabetes de Beatriz, mas também dedica tempo para compreender sua história pessoal, seus hábitos de vida e suas preocupações em relação ao diagnóstico. Ele utiliza uma linguagem acessível, explicando detalhadamente o que é diabetes, os possíveis impactos na saúde e as opções de tratamento.

Ao abordar a relação interpessoal, Dr. Marcos destaca a importância da parceria entre ele, Beatriz e sua família para enfrentar o desafio do diabetes. Ele incentiva Beatriz a compartilhar suas dúvidas, preocupações e expectativas em relação ao tratamento.

Para tanto, Dr. Marcos Oliveira adota uma comunicação clara e empática ao explicar o plano de tratamento, incluindo mudanças na dieta, monitoramento da glicose e o uso de medicações. Ele encoraja Beatriz a fazer perguntas, esclarece quaisquer dúvidas e verifica regularmente se as informações foram compreendidas.

Com relação aos desafios, Beatriz, apesar de inicialmente motivada a seguir as recomendações de Dr. Marcos, enfrenta desafios na adesão ao tratamento. Ela expressa preocupações sobre a necessidade de modificar sua dieta, incorporar exercícios físicos e tomar medicamentos regularmente.

Dr. Marcos, percebendo as resistências de Beatriz, aborda a situação com empatia. Ele explora as possíveis razões por trás das preocupações dela, levando em consideração sua história pessoal e suas experiências anteriores com a saúde. Ele reconhece a importância de compreender as possíveis transferências e contratransferências que podem estar influenciando a relação profissional-paciente.

Dr. Marcos incentiva a participação ativa da família de Beatriz no processo de tratamento. Ele realiza sessões educativas envolvendo o cônjuge e os filhos de Beatriz, garantindo que todos compreendam a gravidade da situação e possam oferecer apoio emocional.

Assim, a abordagem centrada na relação profissional de saúde e paciente adotada por Dr. Marcos Oliveira gera resultados positivos. Beatriz, ao se sentir ouvida e apoiada, demonstra maior comprometimento com as mudanças no estilo de vida e adere ao tratamento proposto. Sua família torna-se um pilar de apoio, contribuindo para um ambiente favorável ao controle da diabetes.

Este estudo de caso destaca a importância da relação profissional de saúde e paciente na adesão ao tratamento. A abordagem empática, a comunicação clara e a consideração dos aspectos psicológicos e sociais do paciente são fundamentais para o sucesso do tratamento. O papel ativo da família também se revela crucial na promoção da adesão e na construção de uma base sólida para o cuidado contínuo.

No contexto da saúde, as relações humanas são estudadas em termos de relação intrapessoal (comunicação interna) e interpessoal (como nos relacionamos com os outros). A interação entre pacientes e profissionais de saúde se baseia em um referencial biopsicossocial, buscando equilíbrio através da escuta, participação e autonomia do paciente.

A boa relação profissional de saúde e paciente depende de uma comunicação clara, empática e com qualidade técnica. A adesão ao tratamento, definida pela OMS como o alinhamento do comportamento do paciente com as recomendações do profissional, é influenciada diretamente pela qualidade da relação.

Há que se considerar ainda que a relação pode ser afetada por fenômenos, como transferência e contratransferência, em que questões não resolvidas de relações passadas podem interferir na dinâmica atual. Profissionais de saúde precisam estar atentos a esses aspectos para garantir uma relação saudável e eficaz.

A assimetria na relação, seja com o profissional se colocando acima ou abaixo do paciente, pode gerar resistências. O equilíbrio, a boa comunicação e a relação saudável são fundamentais para uma adesão efetiva. Porém, a relação profissional de saúde e paciente se estende para além do indivíduo, envolvendo a família e outros elementos do ambiente do paciente. A compreensão dessas relações é crucial para o cuidado e para promover uma experiência positiva, independentemente do desfecho do tratamento.

Por fim, o profissional de saúde deve considerar a individualidade de cada paciente, buscando entender suas necessidades e características para promover uma abordagem personalizada. A aliança com o paciente, mesmo em situações desafiadoras, é essencial para promover o cuidado eficaz e o crescimento tanto profissional quanto pessoal.

Você é um profissional de saúde recém-formado, prestes a iniciar sua carreira em um hospital público. O hospital atende a uma comunidade diversificada, com desafios socioeconômicos, culturais e de saúde. Você está ansioso para aplicar os conhecimentos adquiridos durante a formação, especialmente em relação à saúde coletiva e aos determinantes sociais em saúde.

Ao iniciar sua prática, você percebe uma grande demanda de pacientes com condições de saúde relacionadas a determinantes sociais, como falta de moradia adequada, acesso limitado à alimentação saudável e baixa renda. Além disso, há uma equipe multiprofissional, mas você observa alguns desafios na comunicação e na colaboração entre os profissionais de diferentes áreas.

Você se depara com um caso específico de um paciente idoso, Sr. Silva, que apresenta múltiplos problemas de saúde decorrentes das condições precárias de moradia e alimentação. Além disso, ele enfrenta dificuldades em acessar os serviços de saúde devido à falta de transporte. Sua família também está envolvida no cuidado, mas há resistência por parte deles em aceitar certas recomendações de tratamento.

Questiona-se:

  • Quais são os determinantes sociais em saúde evidenciados no caso do Sr. Silva? Explique como esses determinantes influenciam sua condição de saúde.
  • Como a abordagem biopsicossocial pode ser aplicada no cuidado ao Sr. Silva? Apresente estratégias que considerem os aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
  • Diante dos desafios observados na equipe multiprofissional, como você, no papel de novo membro, contribuiria para promover uma identidade de trabalho saudável e satisfatória?

1. Explique brevemente como o conceito de saúde evoluiu ao longo da história, destacando algumas das influências culturais e teóricas.

RESPOSTA: o conceito de saúde evoluiu ao longo da história, refletindo crenças e teorias diversas. Desde visões mágico-religiosas até as teorias dos humores de Hipócrates, na Grécia Antiga, sendo que o entendimento atual é influenciado pelo contexto social, econômico e cultural, ou seja, biopsicossocial.

2. Quais são os determinantes sociais em saúde e de que maneira eles variam no contexto socioeconômico do Brasil?

RESPOSTA: os determinantes sociais em saúde abrangem condições de nascimento, crescimento, vida, trabalho e envelhecimento, incluindo o acesso aos serviços de saúde. No Brasil, esses determinantes variam de acordo com distribuição de renda, poder e recursos, sendo afetados por fatores, como transporte, habitação, emprego e acesso à saúde.

3.Explique a importância da identidade no trabalho em saúde. Quais são os fatores destacados como fundamentais para promover uma identidade de trabalho saudável e satisfatória?

RESPOSTA: a identidade no trabalho em saúde é crucial, pois está vinculada à sobrevivência financeira, ao significado e ao propósito da vida. A construção da identidade requer qualificação, autoconstrução, reconhecimento e valorização. Qualificação profissional, comprometimento, planejamento, capacidade de resolução de conflitos e empatia são fatores fundamentais para promover uma identidade de trabalho saudável e satisfatória.

Quanto aos determinantes sociais em saúde evidenciados no caso do Sr. Silva, podemos apontar condições precárias de moradia, falta de acesso a alimentação saudável e dificuldades de transporte para serviços de saúde. Esses fatores impactam diretamente sua saúde física e mental, contribuindo para a manifestação de múltiplos problemas de saúde.

Em relação à abordagem biopsicossocial e como esta pode ser aplicada no cuidado ao Sr. Silva, neste caso, ela envolveria não apenas intervenções médicas, mas também a consideração de suas condições sociais. Isso incluiria a coordenação com assistentes sociais para melhorar suas condições de moradia, orientação nutricional e facilitação de transporte para os serviços de saúde.

Diante dos desafios observados na equipe multiprofissional, você poderia contribuir promovendo uma comunicação eficaz entre os profissionais, incentivando a compreensão mútua das competências de cada membro da equipe e promovendo a colaboração. Além disso, participar ativamente em discussões interdisciplinares para integrar abordagens diversas no cuidado ao paciente.

Espera-se que, ao aplicar uma abordagem biopsicossocial e promover uma colaboração eficaz na equipe, seja possível proporcionar ao Sr. Silva um cuidado mais integral e adaptado às suas necessidades específicas, ao mesmo tempo em que fortalece a identidade de trabalho da equipe.




Referências

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