Unidade 1 -AULA 2
ÉTICA E MORAL – definições e escopo
Como
mencionado anteriormente, a moral pode ser compreendida como um conjunto de
normas que guiam nossos julgamentos sobre o que é certo ou errado, moral ou
imoral, além de orientar nossas ações cotidianas. A moral é formada pelos
valores preestabelecidos pela sociedade, junto com os comportamentos aceitos,
que, por sua vez, podem ser objeto de questionamento ético (SILVA, 2016).
Exemplos É crucial enfatizar que muitas das regras e normas estabelecidas ao
longo da história foram permeadas por injustiças, violência e sofrimento.
Essas circunstâncias dolorosas estiveram presentes em eventos como
escravidão, guerras e diversas formas de intolerância. Embora desejássemos
poder afirmar que esses episódios pertencem ao passado, a triste realidade é
que ainda hoje nos deparamos com essas mesmas situações. Outras situações
foram corrigidas, como a abolição da escravidão e do trabalho infantil, a participação
das mulheres na política. |
A ética não é apenas uma teoria; é
uma reflexão crítica sobre a moralidade, incorporando um conjunto de princípios
e disposições voltados para a ação, moldados historicamente. Seu
propósito é guiar as ações humanas, tornando-se um farol para os indivíduos na
sociedade, promovendo a humanização do ambiente ao nosso redor. A ética
não apenas questiona, mas também transforma. Ela deve ser adotada como uma
postura diante da vida cotidiana, capacitando-nos a avaliar de maneira crítica
os preceitos não questionados da moral existente.
Conforme você
pôde notar, embora cada um desses conceitos tenha suas próprias nuances
distintas, há uma conexão intrínseca entre eles, pois a ética tem a própria
moral como seu objeto de estudo. Essa interligação profunda entre ética e moral
revela a complexidade das relações humanas e como nossos valores fundamentais
são examinados e orientados pela ética.
MORAL Vs. ÉTICA
Moral e ética
são conceitos habitualmente empregados como sinônimos, ambos se referindo a um
conjunto de normas e condutas obrigatórias. Isso ocorre, e de maneira
aceitável, porque temos dois vocábulos herdados: um do latim (moral) e outro do
grego (ética), duas culturas antigas que assim nomeavam o campo de reflexão
sobre os “costumes” dos seres humanos, sua validade e legitimidade (TAILLE,
2007).
Originário do
grego, o termo ética tem sua raiz no ethos, que remete ao
comportamento dos indivíduos diante das adversidades da vida e do medo da
morte. Ethos denota o caráter peculiar do ser humano que
procura um modo de vida específico diante das dificuldades da realidade.
A ética,
portanto, consiste numa forma de postura e num modo de ser, à natureza humana.
Trata-se de uma maneira de lidar com as diversas situações da vida e os modos
como estabelecemos relações com outras pessoas. Podemos, também, conceber a
ética como um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do
comportamento humano na tentativa de explicar as regras morais de modo racional
e fundamentado. Trata-se de uma reflexão sobre a moral. Assim, a ética é parte
da filosofia que estuda a moral, refletindo e empreendendo questionamentos
sobre as regras morais (SILVA, 2016).
Entretanto,
a ética, tanto quanto a moral, não é um conjunto de verdades fixas, imutáveis.
A ética se move, historicamente, se amplia e se adensa. Para entendermos como
isso acontece na história da humanidade, basta lembrarmos que, um dia, a
escravidão foi considerada natural. Entre a moral e a ética há uma tensão
permanente: a ação moral busca uma compreensão e uma justificação crítica
universal, e a ética, por sua vez, exerce uma permanente vigilância crítica
sobre a moral, para reforçá-la ou transformá-la.
A ética não se
reduz apenas a seu aspecto social, pois à medida que desenvolvemos nossa
reflexão crítica, passamos a questionar os valores herdados e então decidimos
se aceitamos ou não as normas. A decisão de acatar uma determinada norma é
sempre fruto de uma reflexão pessoal consciente, que pode ser chamada de
interiorização. É essa interiorização das normas que qualifica um ato como
sendo moral.
De acordo com
a perspectiva de Marilena Chauí (2000), para que um indivíduo seja considerado um sujeito ético ou
moral, ele deve atender a uma série de condições essenciais:
- Consciência de si mesmo e dos outros: é fundamental
que o indivíduo tenha consciência não apenas de suas próprias emoções e
pensamentos, mas também reconheça os outros como sujeitos éticos
igualmente válidos e importantes;
- Vontade e controle: o sujeito ético deve possuir
vontade, significando a capacidade de controlar seus desejos e impulsos.
Esta habilidade permite que ele guie suas ações em direção a um
comportamento ético. Além disso, ele deve ter a capacidade de ponderar
entre diferentes alternativas antes de agir;
- Responsabilidade e consequências: ser responsável
implica reconhecer-se como o autor de suas ações. Isso envolve não apenas
compreender as consequências de suas ações para si mesmo, mas também para
os outros ao seu redor. O sujeito ético deve assumir as repercussões de
suas escolhas e estar disposto a responder por elas;
- Liberdade e autonomia: a liberdade, neste contexto,
refere-se à capacidade de o indivíduo de ser a causa interna de suas
atitudes. Isso significa que ele não está submetido a forças externas que
o obriguem a agir de uma determinada maneira.
Essa liberdade implica que o sujeito ético é capaz de estabelecer
suas próprias regras de conduta, seguindo seus próprios princípios e
valores.
EM RESUMO,
PODEMOS CONCLUIR QUE AO REFLETIRMOS SOBRE OS CONCEITOS DE ÉTICA E MORAL,
ENCONTRAMOS UM PONTO DE CONVERGÊNCIA: A ÉTICA SE CONCENTRA NO INDIVÍDUO,
DIZENDO RESPEITO ÀS AÇÕES BOAS E JUSTAS DE UM "EU"; ENQUANTO A MORAL
SE PREOCUPA COM O OUTRO, UMA VEZ QUE NOSSOS COMPORTAMENTOS SÃO GUIADOS POR
NORMAS E REGRAS SOCIALMENTE ESTABELECIDAS (SANTOS, 2021).
Portanto, se a ética é a categoria vinculada ao
existir, a moral é a do dever; no primeiro caso, temos uma reflexão
que implica uma ação, que é individual; no segundo, uma norma coletiva; a ética
lida com o indivíduo e a moral com as instituições (como o Estado, a religião,
a sociedade organizada). Se a ética provoca nossas certezas imediatas, ela
exige também uma discussão mais ampla, ancorada nos valores mais universais
plasmados na moral. A ética é uma interrogação e um julgamento sobre a
qualidade de nossas ações e por isso há nela o espaço para a dúvida, a
hesitação, a incerteza, a interpelação. A moral impõe modelos de ação segundo a
lei, e a ética propõe formas de ação segundo nossos valores. Sob o manto delas,
cada um decide a melhor forma de agir. Fora delas, só há espaço para a barbárie
(SANTOS, 2021).
referências bibliográficas:
BRASIL. Ministério da Saúde. Ética profissional e relações interpessoais. Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/programa_saude_agente_etica_relacoes_interpessoais.pdf. Acesso em: 19 out. 2023.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
SANTOS, A. C. Variações conceituais entre a ética e a moral. Filosofia Unisinos, v. 22, n. 2, 2021.
SANTOS, A. P. M. et al. Legislação e ética profissional. Porto Alegre: SAGAH, 2019.
SILVA, D. A diferença entre ética e moral. [S.l.]: Estudo Prático, 2016. Disponível em: https://www.estudopratico.com.br/qual-diferenca-entre-etica-e-moral/. Acesso em: 18 out. 2023.
TAILLE, Y. Ética e moral: dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Armted, 2007.
TERRA. Casal de moradores de rua encontra bolsa com R$ 20 mil e entrega à polícia. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/casal-de-moradores-de-rua-encontra-bolsa-com-r-20-mil-e-entrega-a-policia,410edc840f0da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acesso em: 18 out. 2023.
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