sábado, 22 de março de 2025

BIOÉTIC E BIOSEGURANÇA

 

Unidade 1 -AULA 2

ÉTICA E MORAL – definições e escopo

Como mencionado anteriormente, a moral pode ser compreendida como um conjunto de normas que guiam nossos julgamentos sobre o que é certo ou errado, moral ou imoral, além de orientar nossas ações cotidianas. A moral é formada pelos valores preestabelecidos pela sociedade, junto com os comportamentos aceitos, que, por sua vez, podem ser objeto de questionamento ético (SILVA, 2016).

 Exemplos

É crucial enfatizar que muitas das regras e normas estabelecidas ao longo da história foram permeadas por injustiças, violência e sofrimento. Essas circunstâncias dolorosas estiveram presentes em eventos como escravidão, guerras e diversas formas de intolerância. Embora desejássemos poder afirmar que esses episódios pertencem ao passado, a triste realidade é que ainda hoje nos deparamos com essas mesmas situações. Outras situações foram corrigidas, como a abolição da escravidão e do trabalho infantil, a participação das mulheres na política.

 

A ética não é apenas uma teoria; é uma reflexão crítica sobre a moralidade, incorporando um conjunto de princípios e disposições voltados para a ação, moldados historicamente. Seu propósito é guiar as ações humanas, tornando-se um farol para os indivíduos na sociedade, promovendo a humanização do ambiente ao nosso redor. A ética não apenas questiona, mas também transforma. Ela deve ser adotada como uma postura diante da vida cotidiana, capacitando-nos a avaliar de maneira crítica os preceitos não questionados da moral existente.

Conforme você pôde notar, embora cada um desses conceitos tenha suas próprias nuances distintas, há uma conexão intrínseca entre eles, pois a ética tem a própria moral como seu objeto de estudo. Essa interligação profunda entre ética e moral revela a complexidade das relações humanas e como nossos valores fundamentais são examinados e orientados pela ética.

MORAL Vs. ÉTICA

Moral e ética são conceitos habitualmente empregados como sinônimos, ambos se referindo a um conjunto de normas e condutas obrigatórias. Isso ocorre, e de maneira aceitável, porque temos dois vocábulos herdados: um do latim (moral) e outro do grego (ética), duas culturas antigas que assim nomeavam o campo de reflexão sobre os “costumes” dos seres humanos, sua validade e legitimidade (TAILLE, 2007).

Originário do grego, o termo ética tem sua raiz no ethos, que remete ao comportamento dos indivíduos diante das adversidades da vida e do medo da morte. Ethos denota o caráter peculiar do ser humano que procura um modo de vida específico diante das dificuldades da realidade. 

A ética, portanto, consiste numa forma de postura e num modo de ser, à natureza humana. Trata-se de uma maneira de lidar com as diversas situações da vida e os modos como estabelecemos relações com outras pessoas. Podemos, também, conceber a ética como um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano na tentativa de explicar as regras morais de modo racional e fundamentado. Trata-se de uma reflexão sobre a moral. Assim, a ética é parte da filosofia que estuda a moral, refletindo e empreendendo questionamentos sobre as regras morais (SILVA, 2016).

Entretanto, a ética, tanto quanto a moral, não é um conjunto de verdades fixas, imutáveis. A ética se move, historicamente, se amplia e se adensa. Para entendermos como isso acontece na história da humanidade, basta lembrarmos que, um dia, a escravidão foi considerada natural. Entre a moral e a ética há uma tensão permanente: a ação moral busca uma compreensão e uma justificação crítica universal, e a ética, por sua vez, exerce uma permanente vigilância crítica sobre a moral, para reforçá-la ou transformá-la.

A ética não se reduz apenas a seu aspecto social, pois à medida que desenvolvemos nossa reflexão crítica, passamos a questionar os valores herdados e então decidimos se aceitamos ou não as normas. A decisão de acatar uma determinada norma é sempre fruto de uma reflexão pessoal consciente, que pode ser chamada de interiorização. É essa interiorização das normas que qualifica um ato como sendo moral.

De acordo com a perspectiva de Marilena Chauí (2000), para que um indivíduo seja considerado um sujeito ético ou moral, ele deve atender a uma série de condições essenciais:

  • Consciência de si mesmo e dos outros: é fundamental que o indivíduo tenha consciência não apenas de suas próprias emoções e pensamentos, mas também reconheça os outros como sujeitos éticos igualmente válidos e importantes;
  • Vontade e controle: o sujeito ético deve possuir vontade, significando a capacidade de controlar seus desejos e impulsos. Esta habilidade permite que ele guie suas ações em direção a um comportamento ético. Além disso, ele deve ter a capacidade de ponderar entre diferentes alternativas antes de agir;
  • Responsabilidade e consequências: ser responsável implica reconhecer-se como o autor de suas ações. Isso envolve não apenas compreender as consequências de suas ações para si mesmo, mas também para os outros ao seu redor. O sujeito ético deve assumir as repercussões de suas escolhas e estar disposto a responder por elas;
  • Liberdade e autonomia: a liberdade, neste contexto, refere-se à capacidade de o indivíduo de ser a causa interna de suas atitudes. Isso significa que ele não está submetido a forças externas que o obriguem a agir de uma determinada maneira. Essa liberdade implica que o sujeito ético é capaz de estabelecer suas próprias regras de conduta, seguindo seus próprios princípios e valores.

EM RESUMO, PODEMOS CONCLUIR QUE AO REFLETIRMOS SOBRE OS CONCEITOS DE ÉTICA E MORAL, ENCONTRAMOS UM PONTO DE CONVERGÊNCIA: A ÉTICA SE CONCENTRA NO INDIVÍDUO, DIZENDO RESPEITO ÀS AÇÕES BOAS E JUSTAS DE UM "EU"; ENQUANTO A MORAL SE PREOCUPA COM O OUTRO, UMA VEZ QUE NOSSOS COMPORTAMENTOS SÃO GUIADOS POR NORMAS E REGRAS SOCIALMENTE ESTABELECIDAS (SANTOS, 2021).

Portanto, se a ética é a categoria vinculada ao existir, a moral é a do dever; no primeiro caso, temos uma reflexão que implica uma ação, que é individual; no segundo, uma norma coletiva; a ética lida com o indivíduo e a moral com as instituições (como o Estado, a religião, a sociedade organizada). Se a ética provoca nossas certezas imediatas, ela exige também uma discussão mais ampla, ancorada nos valores mais universais plasmados na moral. A ética é uma interrogação e um julgamento sobre a qualidade de nossas ações e por isso há nela o espaço para a dúvida, a hesitação, a incerteza, a interpelação. A moral impõe modelos de ação segundo a lei, e a ética propõe formas de ação segundo nossos valores. Sob o manto delas, cada um decide a melhor forma de agir. Fora delas, só há espaço para a barbárie (SANTOS, 2021).


referências bibliográficas:

BRASIL. Ministério da Saúde. Ética profissional e relações interpessoais. Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/programa_saude_agente_etica_relacoes_interpessoais.pdf. Acesso em: 19 out. 2023.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

SANTOS, A. C. Variações conceituais entre a ética e a moral. Filosofia Unisinos, v. 22, n. 2, 2021. 

SANTOS, A. P. M. et alLegislação e ética profissional. Porto Alegre: SAGAH, 2019.

SILVA, D. A diferença entre ética e moral. [S.l.]: Estudo Prático, 2016. Disponível em: https://www.estudopratico.com.br/qual-diferenca-entre-etica-e-moral/. Acesso em: 18 out. 2023. 

TAILLE, Y. Ética e moral: dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Armted, 2007.

TERRA. Casal de moradores de rua encontra bolsa com R$ 20 mil e entrega à polícia. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/casal-de-moradores-de-rua-encontra-bolsa-com-r-20-mil-e-entrega-a-policia,410edc840f0da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acesso em: 18 out. 2023. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário